Expectations ou E Tudo Isso Deve Ser... Brasil
São 7:56. Manhã cinzenta. CD de cantos gregorianos em ritmo pop. Lembro da amada de Quasímodo sendo torturada aos sons de cantos gregorianos pelo Monsenhor da Igreja. O Corcunda de Notre Dame, belo, lírico, político e poético. Anthony Quinn dando um show de interpretação, se entendo alguma coisa de cinema. Lembro da Igreja fazendo opção pelos pobres como se esta opção já não tivesse sido feita, e de modo muito mais contundente, profícuo e real, há muito tempo pelo inequívoco pastor – esse de verdade – Jesus.
Lembro de Carandiru, Candelária, Cidade de Deus, Carajás (o Eldorado). E depois vem a letra D... de Diadema. Os caras sendo esculachados pela polícia. E a gente vendo pela TV. E os precatórios, os anões do orçamento, o escândalo da mandioca, Ibraim Abi-ackel, aquele ministro de sobrenome Freire cujo avião caiu, Castelo cujo avião caiu também, ou derrubaram... E tudo isso deve ser... Brasil.
Passando pela estação do Méier um dia de tarde, como há muito não fazia. Movimento de alguns trabalhadores na entrada do antigo cinema Pára-Todos. Ajeitam a casa para ser mais um templo do “bispo” Macedo. Templo da cultura - como o foram Mascote, Imperator, Santa Alice e muitos outros - passa agora a ser um ponto de arrecadação de dinheiro. Como era antes. Só que, antes, em nome da cultura. E agora, em nome da mentira. Ou em nome da enganação daqueles que não têm condição de questionar nada. Do maior assessor de FH ao menor do ex-Prefeito Conde, do Rio de Janeiro, todos sabem que essas lojas existem para enganar a camada mais representativa da população (os mais pobres serão sempre os mais numerosos) e também a mais frágil. Mas ninguém faz nada. Nem mesmo a Igreja Católica. O que é compreensível, porque ela também não difere muito disso tudo. E tudo isso "tem" de ser... Brasil.
Rio, 09/04/1997