PARABÉNS, ÂNGELA, PELA IMORTALIDADE DOS SEUS VERSOS!
 
Ontem, sábado, dia 27/08, apesar de ser um final de semana em que eu, depois de muito tempo tendo compromissos, justamente, nos finais de semana, poderia dormir até um pouco mais tarde, prazerosamente, acordei cedinho. É que eu e a digníssima tínhamos um compromisso para a parte da manhã: íamos assistir a posse das novas imortais da Academia Feminina de Letras e Artes de Mossoró, entre elas, a nossa amiga Ângela Gurgel.

Enquanto tomava banho, eu me lembrava de como tudo começara – para ela. Do ouvir dizer, em conversas informais e até em círculos de palestras – por ela –, que tudo tivera início nas postagens, aos domingos, no caderno de cultura do jornal o Mossoroense (onde suas poesias eram lidas e comentadas, favoravelmente, pelos leitores dominicais) até chegar ao ápice daquele sábado. Imagino que, para esta poetisa, fazer essa retrospectiva seja uma maneira de novamente percorrer um caminho trilhado, por longos anos abordando os quereres e desejos, a tristeza e a solidão, tudo isso, de uma forma em que sonhos e fantasias sejam sinônimos da paixão que alimenta o corpo, e do amor suave e puro que purifica a alma.

Assim, à medida que me vestia, eu me lembrava do dia em que fui apresentado a ela, pelo amigo em comum, jornalista Mário Gérson. Foi no Campus da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Ela estava terminando a sua segunda graduação, esta, em Filosofia, e eu, também, estava concluindo mais uma graduação. De temperamento alegre, brincalhona, fácil de lidar, logo nos tornamos amigos e, éramos, os três, figuras carimbadas no cafezinho de dona Marileide, todos os dias. Sempre houve uma troca de conhecimentos entre nós. Mário, com a sua costumeira prolixidade, nos servia, de bandeja, a sua prodigiosa mente literária; Ângela, entre conceitos filosóficos e a experiência de ter sido Secretária de Educação, do município de Caraúbas/RN, contava os causos vivenciados nesses períodos todos. A mim, só cabia descrevê-los, de vez em quando, em simples crônicas no caderno Expressão do jornal Gazeta do Oeste, sempre aos domingos.

No caminho para a solenidade, lembrei-me do dia em que, motivado pela certeza de que ela seria uma das ganhadoras do III Concurso Rota Batida, com apoio da Coleção Mossoroense e Fundação Vingt-un Rosado, e com o patrocínio da Petrobras, eu a incentivei a participar. Inicialmente, ela não quis nem saber. Porém, com os devidos e insistentes apelos que se tornavam até chatos – acho que até por isso mesmo, para se livrar de um chato de galocha, ela resolveu participar. Da reunião das poesias até a entrega, eu fiz questão de estar presente. Era a maneira de não fazê-la desistir. Até na entrega do material, na Coleção Mossoroense – eu fiz questão de acompanhá-la. Não era desconfiança, mas, sim, o cuidado de eliminar qualquer possibilidade de um imprevisto que a impedisse concorrer, pois tinha a certeza de que, em ela participando, o seu nome seria apresentado como uma das ganhadoras do prêmio.

No percurso para o local, saindo da cidade de Mossoró, em direção ao povoado de Lagoinha, enquanto a minha cônjuge tentava um contato telefônico com a quase imortal, eu continuei a divagar sobre essa trajetória vitoriosa e ri, quando me lembrei do susto que dei nela quando liguei para a sua residência para lhe dar a notícia de que ela tinha sido uma das ganhadoras, na categoria Poesia, do prêmio Rota Batida da Petrobras. A emoção, do outro lado da linha, dava para ser sentida.

Porém, ela me deu o troco, me pregando uma grande peça, no dia em que foi buscar os livros lá na Coleção Mossoroense. A lembrança daquela manhã veio, imediatamente, no exato momento em que o carro onde seus filhos estavam ultrapassava o meu. A pressa justificava a velocidade: estávamos, todos nós, atrasados para o evento.

- Raimundo, você pode ir comigo pegar o meu filho que nasceu ontem?

Juro que a primeira coisa que eu fiz foi olhar para a cintura dela – discretamente, claro. Depois, desconfiado de que tinha ouvido mal ou de que o curso de Filosofia não estava fazendo muito bem à minha amiga, eu lhe fiz a clássica pergunta: o quê? Depois que ela repetiu a mesma coisa, eu, educadamente – e por medo de que aquilo pudesse ser mais sério do que eu imaginava –, lhe pedi para sentar-se. Acredito que tenha sido uma medida preventiva para, em caso de acidente vascular grave, ela não caísse com o corpo diretamente no chão (essa história eu contei, anteriormente, em uma crônica chamada “Um Parto Diferente”).

O local da festividade solene estava ali na minha frente. Manobrei para entrar no Rancho Verde, mais conhecido como Museu do Sertão, de propriedade do doutor Benedito Benevides – que estava aniversariando e, como vem fazendo já há cerca de oito anos, aproveitou para reunir os escritores, jornalistas, intelectuais e as figuras proeminentes da cultura, das artes e da política para um dia em sua fazenda. Desta vez, as Academias da região aproveitaram o ensejo e realizaram as suas próprias solenidades dentro dos festejos do Museu do Sertão.

Lá dentro, em meio aos convidados, avistei a já quase imortal. Estava nervosa – não poderia ser diferente –, porém, em contrapartida, o seu olhar demonstrava um misto de alegria e satisfação pessoal – peculiaridade do sentir de quem, mesmo não sendo vaidosa em seus conceitos, vê seus esforços sendo reconhecidos, valorizados e os sonhos concretizados. Os seus filhos e uma das noras, do seu lado, a olhavam com orgulho: era a mãe deles que se apresentava, para a posteridade, como uma pessoa que, a partir daquele momento, deixaria o seu nome gravado na história do país chamado Mossoró. Eles estavam lá para homenageá-la e apoiá-la. Não só eles. Os seus amigos da universidade onde ela trabalha como ouvidora e a sua irmã-madrinha e quase gêmea – também, nunca vi uma pessoa se parecer tanto com outra como a irmã de Ângela se parece com ela. É incrível!

Na apresentação para os convidados, coube ao ex-governador do Ceará, Lúcio Alcântara, a honra de entregar-lhe o diploma de ocupante da cadeira 38, na Academia Feminina de Letras de Mossoró, na categoria Poesias.

Confesso que fui tomado pela emoção. Não pelo fato de ter vivenciado cada dia dessa caminhada, mas de ver, naquele momento, que, de vez em quando, a justiça natural das coisas é contemplada sem que seja preciso apadrinhamento ou favorecimento de terceiros. Ela, a Ângela, tornou-se membro de uma confraria por méritos próprios. E eu sou testemunha disso... Parabéns, minha amiga!

Obs. Na foto de cima, o ex-governador do Ceará, Lúcio Alcântara, quando da entrega do diploma a imortal da cadeira 38.



A imortal Ângela recebendo a pelerine (ou toga) das mãos da imortal Dulcinéia Cavalcante da cadeira 18. 


As imortais da Academia Feminina de Letras e Artes de Mossoró


ô bicho bom é o nordeste! 35 graus, sombra fresca, conversa jogada fora e, o melhor: só esperando para dar os parabéns a nova imortal! 


Uma foto, com a mais nova imortal, para a posteridade...


Auxiliadora, a imortal e eu.


Não poderia faltar a tradicional foto da rede, afinal de contas, estávamos em um sítio, no nordeste do Brasil e, ainda por cima, debaixo de uma frondosa mangueira.



 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 28/08/2011
Reeditado em 19/04/2019
Código do texto: T3187304
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