A falta de compreensão e empatia da nossa época

É tempo de ódio! Pensavam assim no século XVIII ou XIX, talvez. É tempo de liberdade! Essa pode ter sido a mensagem durante todo o século XX. Mas, como toda ação tem uma consequência, não poderia ser diferente agora. A liberdade transformou a nossa maneira de pensar completamente. Trouxe novas tecnologias, já que agora passamos a ser livres para desejar conforto e comodidade. Trouxe novos ideais que antes nem eram visualizados. Revoluções, anarquia, eleições, revolta, quebras de sigilo bancário, escutas telefônicas, compra de votos, democracia, ruas asfaltadas, ação social, ONG´s, internet, redes sociais, intrigas nas redes, crítica ao governo e à mídia...

É tempo de entender o que está realmente acontecendo. Transformamos-nos em sórdidos egoístas que nem se preocupam com nossos semelhantes. Esse esquálido e caótico sistema moderno de informações instantâneas nos trouxe uma realidade antes obscurecida pela ignorância. Não temos empatia. Não sabemos compreender nosso semelhante. Nossa liberdade nos transformou em monstros. Vejo isso o tempo todo e me sinto incomodado, não pelas conseqüências em longo prazo, mas só por que isso me faz mal.

Animais continuam sendo mortos para satisfazer o desejo da raça humana, mas agora, ao invés de casacos de pele e bolsas, temos diversão em vídeos postados na internet. O ridículo tronou-se atraente. Calças apertadas com os fundos largos são a nova atração dos circos televisivos. E por quê? Liberdade? Não serei o carrasco da liberdade, não pretendo caminhar por esse sinuoso rumo. Mas, temos de convir que muitas pessoas apresentam uma real dificuldade em lidar com a liberdade.

Não tenho o direito de pensar bem, pois sou imediatamente levado a crer que, se assim fizer, morrerei. Não é o inferno que os atormenta mais. É o simples fato de não mais existir. A existência está sendo superestimada. Pense como eles, pois, como somos livres, temos que nos unir em pensamento. É sério isso? Já perceberam que a quantidade de pregadores do reino de deus quadruplicou? Já que somos livres para escolher em que desejamos acreditar, em qual deus sevemos depositar nossa cega confiança, o número de igrejas se tornou ridiculamente absurda. São templos personalizados de acordo com o público. A televisão é personalizada de acordo com o público. E o público é medíocre. Logo, temos cultos medíocres, programas medíocres e cultos televisivos medíocres. (Não poderia haver nada pior)

As pessoas, agora livres para casar, se casam. Depois, já que são livres para se separar, se separam. Danem-se seus filhos. Esse nem é mais o problema, já que, diferente de 20 anos atrás, quando era estranho e diferente quem tinha pais separados, agora, é estranho e diferente quem não tem pais separados. Analistas precisam se preparar para ajudá-los na próxima década. Teremos crianças perturbadas por se sentirem diferentes. “Por que todos os pais dos meus coleguinhas de classe são separados e os meus não?”, ou “Meu amigos têm pais, mães, padrastos e madrastas; ex-padrastos e ex-madrastas ou apenas tios e tias; eu tenho apenas pai e mãe...”. Todos querem um papel para mostrar que são casados. Exporão sua certidão de casamento em quadros em suas salas. E, quando se divorciarem, pedirão pensão. Liberdade, uma ode a ela! Uma ode para as pequenas causas cíveis! Uma ode aos advogados!

Penso quando os casais se unem em intenso e ardente amor pelas ruas. Como o amor é uma coisa bonita! Mas, como é nojento ouvir as pessoas se amando. Nunca fui muito fã de pornografia e agora entendo o porquê. A ação de fazer sexo pode ser realmente muito boa, mas se você não faz parte dela, se torna tosca. Seria como observar alguém escovar os dentes, defecar ou tomar um prato de sopa. Pra quê empatia e compreensão? Sentem-se em meu muro e se amem até o amanhecer! Amem-se no quarto ao lado, procriem, afinal, deus os fez pra isso! Critiquem quem está só. Só está só quem realmente quer, pois existe uma gama de possibilidades, para todos os gostos. Não precisamos de planos, comamos e bebamos, pois amanhã morreremos.

Se eu estiver dormindo quando for à minha casa, grite até que meus tímpanos sejam obliterados, arremesse pedras em minha vidraça até que se parta. Invada, pois somos livres. Nada que uma conversinha amigável não conserte depois. Mande cartão para meu enterro. Mas, prepare seus familiares para me convidarem para o seu. Daria um braço para ver esta cena.

É tempo de liberdade! É tempo de tecnologia! É tempo de.... Não sei mais em que tempo estamos só sei que não consigo sentir otimismo quanto a isso. Riam de mim se estiver exagerando, mas é o que sinto, afinal sou livre para sentir isso também.

Prima
Enviado por Prima em 28/08/2011
Código do texto: T3187101
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