O nosso admirável e perfeito mundo novo…

Embora seja difícil reconhecer tal na sua plenitude, vivemos numa sociedade plenamente manipulada a todos os níveis, ou pelos políticos que elegemos para defender os nossos interesses mas que na prática defendem os seus interesses e do seu circulo de relacionamento quer social quer económico, e este é um mal mundial, dado a regra geral dos políticos dos últimos 25 anos não defenderem a causa pública, mas a sua causa, não terem o sentido do dever, de missão…Nós sabemos disto, mas preferimos não saber, pois se o nosso de vida continuar como está, não nos incomodamos com a liberalização das leis laborais, com o facto dos mais desprotegidos estarem cada vez mais desprotegidos, que pagamos serviços do estado cada vez mais caros, apesar de parte importante dos nossos impostos ser supostamente tanto para proteger os tais desfavorecidos como para garantir que esses serviços sejam prestados a preços acessíveis, pois nós pagamos tal com os impostos, reforço…Há uma cultura de exacerbado consumismo, onde os valores sociais mais elementares se diluem, onde estamos cada vez mais individualistas e individualizados, onde a solidariedade começa a ser uma palavra cada vez mais em desuso…

E no entanto cada um de nós suspira pelo belo, por belas causas, por algo onde o bem triunfe pelo mal, pelo humanismo perdido etc…apesar de tal ser cada vez mais um logro…

E no entanto quem nos domina não domina por acaso, sabe bem quais os instrumentos de dominação e da forma como devem ser usados…

E assim surgem guerras onde se vão salvar povos oprimidos, onde a liberdade vai triunfar, onde os povos são libertados e os opressores julgados, sendo que somos inundados por imagens desses povos nas ruas a festejar a sua libertação e agradecer aos países do primeiro mundo lhes terem dado esse dom da liberdade, e nós vemos tal e ficamos felizes, esquecendo que essas guerras visam não libertar os povos mas sim o apoderar dos seus recursos em prol das tais nações generosas desenvolvidas, esquecendo que bem ao lado há terras com tiranos bem piores, onde se passam coisas bem mais graves, mas como têm o azar dos seus recursos não justificarem uma intervenção militar, ficamos convencidos pelas palavras dos nossos líderes que nos dizem a situação ser diferente e que uma intervenção é de todo impossível, mas ficamos felizes porque um povo foi supostamente libertados, esquecendo que há uma fila de espera de largas dezenas de povos…Mas como tivemos uma guerra justa, as nossas consciências ficam aliviadas, enquanto os massacres perseguem bem longe da nossa vistas, porque os meios de comunicação são controlados e manipulados pelos nossos donos, e só mostram o que lhes interessa mostrar…No tempo dos nazis isto era considerada propaganda e manipulação ao mais alto nível, mas como somos todos democráticos isto passa por ser apenas mais uma “escolha editorial”, esquecendo que o tal editor é bem controlado pelo seu chefe que tem relações estreitas com quem manda de facto…

E a nossa vontade pelo belo quer continuar a acreditar que a sociedade se rege por justos valores, que até nos desportos triunfam os trabalhadores, os empreendedores, esquecendo que uma boa parte do desporto anda dopado, porque a pressão dos patrocinadores é de tal ordem que certos resultados só se alcançam ou pela via química ou pela via da manipulação de resultados, mas ficamos felizes porque nos dizem que os desportos continuam a seguir o espírito inicial surgido na Grécia antiga, ficamos felizes porque uma bela equipa joga o mais belo futebol do mundo, esquecendo que essa equipa é protegida ao mais alto nível, e que se as outras o fossem da mesma forma seria fácil jogar belo e ganhar, esquecemos que quem se atreve a colocar tal em causa é calado por severos castigos disciplinares ou pecuniários, ou a ameaça severa de tal…

E muito mais, os exemplos de tal dariam imensos livros…

Mas desde que não nos falte a ultima maravilha tecnológica que nos chega a preço acessível, desde que as redes sociais cada vez mais virtuais se mantenham na vanguarda tecnológica que nos permite comunicar ao instante, esquecendo que essa comunicação na prática é cada vez mais distante, nos esquecemos porque acreditamos nas palavras dos nossos donos que nos dizem que quem contesta este admirável e perfeito mundo novo é derrotista ou vive no passado, que não há solução melhor, que este é o melhor dos mundos, matando assim no berço a discussão de novas alternativas, eliminado o diálogo, pois se estivermos atentos o que se passa nos parlamentos do novo mundo é tudo menos dialogo ou discussão de ideias, porque eles falam a mesma linguagem, defendem as mesmas ideias, achando que um juízo crítico é herético, logo deve ser eliminado, perdão, silenciado…

Mas nós esquecemos ou preferimos esquecer, nós não pensamos a não ser no básico pois a quem pense por nós, e quem entre nós se atrever a pensar um pouco mais é mal olhado e excluído…nós esquecemos pois orgulhamo-nos de sermos a geração mais tolerante de todas as da história, esquecendo que a nossa condescendia paternalista para com as pessoas diferentes ou fracas passa por ser uma forma de exclusão como outra qualquer, porque somos iguais em relação às gerações que nos precederam, aliás, somos piores em determinado sentido, porque possuindo uma série de instrumentos que nos possibilitariam o contrário somos se calhar o povo mais cego, mais ausente da história, porque somos ausentes por escolha, por opção e não por imposição, somos os orgulhosos habitantes da mais luminosa sociedade da história, somos os felizes habitantes deste admirável e perfeito mundo novo…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 27/08/2011
Código do texto: T3185786
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