TICRECA BEBUM

Nome de batismo Tarcísio, apelido “Ticreca”, profissão “bebum”, um dos meus personagens favoritos, mormente quando eu morava na aprazível Cachoeirinha, próximo à Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Belô.

Alto, forte, simpaticão, o “Ticreca” era a alegria da turma do “Bar do Espirro”, reduto freqüentado pela rapaziada do bairro e adjacências, grupo por mim apelidado de “Confraria do Álcool”. Seus amigos, Babalú, Guido, Bananal, Toninho Rosquinha, Chico Maritaca, Biscoitão, Vermelho, Piriá, Gondebaldo (o Gonda), Viveiros, Deo, Montanha, Zezé Pistolinha, César (o “Espirro”, dono do bar famoso), Toninho Bicheiro, Teiú, “Sete Lagoas”, Zé do Querosene, Renato, Juquinha, Beto Belas Coxas, Josino, Nado, Fabrício, alguns já falecidos e muitos outros cujos nomes derrapam na areia do tempo, provocada pelo esquecimento em minha memória, todos eles faziam a festa naquele boteco, freqüentado de segunda a segunda, diariamente e mais ainda nos finais de semana.

Desses encontros participei de vários e ouvi muitas histórias, muitos “causos” que me deram motivo para minhas escrevenças, grande parte delas tendo o “Ticreca” como personagem central.

Pois hoje, sábado de sol, passei por lá depois de muito tempo eis que troquei de endereço, morando agora na Cidade Nova e dou de cara com o Guido e seu irmão “Bananal”, bons de papo e de gole também. Puxei uma cadeira junto à mesa dos dois e troquei, não um, mas vários dedos de prosa, saindo feliz e com a conversa em dia. Como não bebo mais há vários, vários anos, tomei um guaraná e abasteci minha agenda com os motes para crônicas futuras, entre elas esta de hoje, a do “Ticreca Bebum”.

Contou-me o “Bananal”, junto ao próprio Tarcísio, que em certa ocasião este procurou um médico, a conselho dos próprios irmãos da “Confraria”, pois vinha se queixando de dores no “figueiredo”. Marcou consulta com um profissional, indicado pela turma e velho conhecedor daquela galera, o qual he fez um exame acurado, pediu alguns exames e, antes de encerrar a entrevista, indagou-lhe:-

“- Tarcísio me diga a verdade, você já bebeu muito em sua vida, não é mesmo?”

“- É verdade, doutor, muito mesmo! ...”

“- Mas ... muito, quanto? Só pra eu ter uma idéia. Quanto???...” – e o “Ticreca”, coçando a barba rala do queixo:-

“- Ah, doutor, já devo ter bebido a Lagoa da Pampulha toda, sabe? ...”

“- A Lagoa da Pampulha todinha? ... Virgem mãe! ...”

“- É doutor, muita cana mesmo, ela todinha e mais os dois laguinhos do Parque Municipal, sabe? ... – e a consulta foi encerrada ali, no ato e sem maiores delongas.

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B.Hte., 27/08/11

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 27/08/2011
Reeditado em 02/02/2013
Código do texto: T3185313
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