O VENTO, A RODOVIA, E A POEIRA AMARELA
Havia aquela rodovia passando lá embaixo, quando subíamos o pequeno morro e no seu topo sentávamos, admirando como era simples, muito simples. Fugíamos daquela aula enfadonha, sempre numa sexta feira, ou só foi uma sexta feira?, o importante é que fugíamos, ou fugimos, após a merenda, sempre aquele cheiro de borracha queimando,longe, longe, “Aonde está a fumaça?”, perguntava a ninguém, olhando pela janela o dia embaçado, apesar de um sol, um vento quente.
Se pudesse ficar ali para sempre, eu não disse, mas cheguei mais próximo, encostei quase ao seu ombro, podia sentir a emanação de sua pessoa. “por que tinha este calor vindo do outro corpo”, era uma pergunta silenciosa, e bem querendo saber se ele sentia a mesma emanação, o mesmo calor vindo do meu corpo.
Era bom experimentar a eternidade daquele momento, daquele lugar, sob a sombra de uma velha castanheira ou coisa parecida. Atrás de nós uma casa em ruínas cujos moradores também estavam em ruínas, mas nós dois parecíamos nascendo, olhando a estrada, o movimento. Para que continuar, por que não parar o instante, eu devo ter perguntado, por que ele me disse tão simples e inocente como criança éramos, Sim, podemos parar, interromper e ficar para sempre este instante. E o instante ficou guardado não sei onde dentro de mim, mas cada dia como uma fotografia amarelada, sem saber ao certo se as imagens eram tão reais, se o momento existiu e fixou-se. Mas eu sabia do vento correndo arrastando capins baixos, levantando poeiras amareladas de barro, sabia da arvore velha cuja sombra sentávamos, sabia do casarão em ruínas atrás de nós, dos gritos e choros de uma criança pedindo algo. Tudo foi ficando, ficando, desaparecendo e surgindo no engenho insignificante dos dias, e um dia apareceu forte quando admirava uma outra rodovia, é que passara lá embaixo uma carreta carregando lixo e papelão amassado no instante em que me virei com vergonha do seu beijo, dos seus lábios buscando o meu sem sentido de amor ainda, e suspirando quis saber para aonde iriam todo aquele lixo reciclado e era neste outro dia, tantos anos depois, como se a mesma carreta voltasse para que eu buscasse a resposta da pergunta verdadeira, que desejaria saber se você falara sério em interromper o momento.
De qualquer maneira sempre foi aquele o único momento entre nós e ele vem e vai conforme o vento, a rodovia e a poeira amarela.
Rodney Dos Santos
Cabo Frio, 26 de agosto de 2011