ATRIBUIÇÃO ATRIBULADA

Já imaginou se o Ricardo Gondim, teólogo e escritor chegasse para os familiares de Mário de Andrade e cobrasse satisfações por plágio de um texto chamado “O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS”, espinafrando a ousadia de um autor que é consagrado e, em tese não precisaria desses expedientes espúrios? Provavelmente ia receber como resposta:

- Estranho, Sr Ricardo, o Mário, nosso parente morreu em 1945 e é bem possível, com essa cara de novo, que naquela época o Sr. sequer tenha nascido ou estava ainda nos cueiros.

E se depois disso, familiares de Mário Coelho Pinto de Andrade, um escritor angolano resolvessem bater à porta do Gondim acusando-o de plagio descarado?

O texto em questão consta do livro Eu Creio, Mas Tenho Dúvidas, de Ricardo Gondim.* Ocorre que há um mesmo texto num site angolano**, do escritor Mário Coelho Pinto de Andrade (e não o nosso Mário de Andrade). O que se nota de diferente é que no livro do sr Gondim, ele aparece com o título de O TEMPO QUE FOGE e no lugar da referência à bacia de jabuticabas, no original (do angolano Mário) seria bacia de cerejas.

A única certeza que temos então, é a de que o belo texto não é de quem é mais citado em quase todas as referências na internet: o escritor Mário de Andrade (brasileiro) que, para quem não se lembra ou não sabe, é o autor de Macunaíma.

Pois é, a internet que dizem ser terra de ninguém, na verdade é terra passível de encontrar em qualquer lugar do planeta o computador que lançou ofensas, ameaças e depravações. E também plágios, cópias e adaptações acochambradas. Terra de todo mundo, no entanto, para determinadas coisas que pouca gente se depara com o intuito de fazer correções dando justos louros a quem realmente foi autor de alguma obra, texto, poesia, tela, blog, matéria, artigo, tese, dissertação, etc, etc, etc. A gente vive reclamando de plágio, que há a possibilidade de alguém copiar literalmente um texto e roubar a autoria. E o que dizer de autores que vivem ganhando a autoria de textos sem pedir? Todo mundo já sabe que o Luis Fernando Veríssimo, a Martha Medeiros, o Arnaldo Jabor e outros tantos aparecem amiúde sendo autores de pérolas e por vezes de textos até mesmo de qualidade duvidosa, coitados.

É uma boa fonte de pesquisa e um desafio muito estimulante para estudantes de letras, ou pesquisadores de literatura e artes em geral, fazerem um levantamento de textos que circulam livremente com a autoria que dá na telha de quem publicou e se espalha pelos telhados vizinhos através de e-mails, blogs e tantos outros sites.

Fica lançada a ideia para quem gostar dela, tiver tempo, disposição e senso de justiça.

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jaboticabas.

As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa… Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade…

Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!

*http://forum.angolaxyami.com/angola/129100-o-valioso-tempo-dos-maduros-por-mario-pinto-de-andrade.html

** http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=92&sg=0&id=2297

*** Nesse site aqui há um bate boca interessante nos comentários sobre a autoria do texto

http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=92&sg=0&id=2297

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 26/08/2011
Código do texto: T3182732
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