Para Sempre

Nove horas. Sol entre nuvens. Um clima de tristeza e expectativa me envolvia. Toca o interfone. Peter late. Fui atender o chamado.

-Oi! O que deseja?

-Vim buscar o pequeno.

Abri o portão, o moço entrou e se identificou.

-Aqui está a autorização de busca.

Entregou-me o papel e, em seguida guardei-o.

O pequenino, ao ouvir aquela voz estranha, procurou esconder-se, pois pressentiu que havia chegado o momento da separação. Fui procurá-lo no quintal onde gostava de passear ou no esconderijo quando lhe repreendia e nada. Dirigi ao meu quarto e lá, deitado, trêmulo, olhos tristes, estava ele debaixo da cama, parecendo interrogar-me:

-Por que me procuram? O que querem de mim?

Chamei-o pelos nomes carinhosos: Totoven, meu lindo cachorrinho, venha cá. Nem se moveu. Precisei puxá-lo para retirá-lo dali.

Ele era meu confidente. Deitado no sofá ao meu lado, conversávamos. Olhar sereno me fitava escutando minhas palavras, como se as compreendesse. Distinguia-me pela voz e pelo cheiro e se alegrava com a minha presença.

Era arriscado convivermos juntos. A doença corroia seu corpo, tornando-o frágil e debilitado. As brincadeiras já lhe causavam fadiga. A comida não mais instigava-lhe o apetite. Seu organismo estava com baixa resistência conforme atestou o exame de sangue. Não há cura para o mal contraído. Seria uma tortura para mim assistir a sua agonia. Não queria vê-lo sofrer. Foi doloroso entregá-lo para o sacrifício. Senti tamanha dor ao vê-lo partir para nunca mais voltar. Olhei-o dentro do carro até desaparecer na esquina. Foi-se o meu companheiro e fiel escudeiro.

Onde está você Beethoven? Penso que Deus reservou um espaço para acolhida dos seres que Ele criou a fim de compor o Paraíso Terrestre onde viveria o homem, sua imagem e semelhança. Seu lugar, certamente estava livre, aguardando a sua chegada. Seja feliz Beethoven!

Lié de Araújo
Enviado por Lié de Araújo em 26/08/2011
Reeditado em 26/08/2011
Código do texto: T3182688
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