Já que reciclar está na moda...
É fato que o assunto reciclagem, além de extremamente importante, está bastante na moda. Nas escolas, nas mídias, em todos os lugares o problema é debatido e realmente o deve ser, pois é fundamental para que pelo menos tentemos ajudar esse nosso tão sofrido planeta.
Penso nisso quando, sentado à janela de minha casa, nessa fria tarde de inverno, vejo do outro lado da rua um homem remexendo o lixo em busca de algum material que ainda possa ser reaproveitado. Plástico, papelão, enfim, ele examina cuidadosamente o conteúdo do saco de lixo, separando pacientemente garrafas pet, latas de cerveja, entre outros. Aquele material, para muitos já totalmente inútil, poderá se transformar em algum produto novo e perfeitamente funcional.
É nessa hora que penso se nós ainda podemos ser reciclados, reaproveitados...depois de bastante uso, nos tornamos, assim como uma garrafa pet, inúteis para muitos. Sem uso, sem utilidade, sem o encanto de quando ainda um produto novo. Somos descartados, jogados fora...simples assim...
Será que alguém ainda veria alguma utilidade em um corpo velho e gasto? Ainda haveria como um sorriso cansado transmitir alguma alegria? Talvez ainda exista quem que se interesse por um coração quebrado, assim como por um olhar sem brilho, ou por uma alma sem paz...
Isso me preocupa de certa forma, porque o material recolhido pelo homem, do outro lado da rua, jamais será utilizado no mesmo produto que o fora um dia. Provavelmente dará origem a produtos de menor qualidade: aquele caderno que não terá folhas branquinhas, ou então um tubo que ficará encerrado dentro de alguma parede, escondido, sem que ninguém se aperceba da sua utilidade em abrigar a fiação elétrica da bela casa. Produtos úteis, porém baratos. Tenho medo de que tudo aquilo que agora tenha sido descartado ainda interesse a alguma pessoa, mas já não a sirva mais com a mesma qualidade, com a mesma sinceridade, que assim seja feito apenas para não poluir, para não contaminar...
Em meio à minha reflexão, o homem termina sua tarefa. Amarra na bicicleta o fardo agora bastante volumoso e se afasta, lentamente, procurando com o olhar por mais materiais que possam ser examinados em busca de lixo reciclável. Está frio, o céu e os prédios cinzentos transmitem mais frieza ainda, uma combinação perfeita para pensamentos como os que agora me ocupam. Sei que amanhã ou depois verei alguma outra matéria, no jornal ou na TV, sobre reciclagem. Do nosso lixo doméstico todos falam, todos sabem, todos têm ideias criativas...mas com os restos da nossa ganância, do nosso egoísmo e da nossa vaidade, poucos se importam.