Os prazeres do Congresso
Escrevo esta coluna um dia após estar no Senado Federal e ter saído ileso. Desta vez vi o senador Suplicy, e tive vontade de pedir que cantasse Bob Dylan, ou que me explicasse resumidamente o Renda Mínima. Também vi o senador Cristovam Buarque, que é um cara que admiro, apesar de seus tweets um tanto truncados. Infelizmente, não pude presenciar a troca de gentilezas e elogios entre os senadores Humberto Costa e Mário Couto, ocorrida no mesmo dia. Mas devo ter visto e esbarrado em outros ilustres representantes do povo - e não faço mais do que isso, pois conversar com eles seria correr risco de contaminação.
De vez em quando tenho experiências exóticas como ir ao Congresso. Mas acontece que sou um rapaz muito ingênuo. Costumo acreditar em tudo que ouço, e por isso não faço a menor ideia do que acontece nos bastidores. Presume-se que haja muita sujeira, mas eu mesmo nunca soube de nada - reitero aos colegas de São Bento que, embora more em Brasília, eu sou inocente.
Pois ainda bem que, para pessoas ingênuas como eu, existem jornalistas corajosos (ou mesmo malucos) que tratam de revelar aquilo que escapa diante dos meus olhos enquanto eu passo por aqueles corredores. Uma dessas jornalistas escreveu para uma revista aqui de Brasília uma reportagem explicando como acontece a prostituição de luxo no Congresso. Não é novidade que existem políticos que usam o serviço de prostitutas - alguns são inclusive filhos delas. O que há de novo na matéria é a constatação de que às vezes elas também são funcionárias da Câmara e do Senado - ou seja, que eu e você estamos pagando por belas noitadas de prazer legislativo.
Diz um agenciador de garotas que cada deputado recebe R$ 60 mil para as suas nomeações. Quem quiser, pode chamar as amantes – fica mais barato, afinal. Algumas colhem assinaturas para projetos de lei – aqueles que boa parte dos deputados assina sem ler. Outras são contratadas para trabalhar nos gabinetes dos deputados. Passam todos os dias pelo Congresso, batem o ponto, recebem as horas extras e vão trabalhar – se é que me entendem – em outro lugar.
Uma moça de 19 anos, citada na matéria, está ganhando hoje R$ 25 mil por mês – fora presentes, como R$ 4 mil em roupas. Graças a empresários e parlamentares, chega a ganhar até R$ 3 mil por noite. Houve caso de uma mulher que conseguiu acesso ao plenário para fazer o corpo a corpo com os deputados. A matéria não escondeu nem mesmo os pedidos que a repórter recebeu para também entrar no lucrativo negócio. Outra das mulheres foi bem clara: se os deputados fizerem greve, quebram as pernas das prostitutas. Talvez seja por razões assim que seja tão difícil o fechamento do Senado.
Muita gente reagiu de forma irônica à matéria: “Não me diga que eles roubam também!”. Outros não viram grande novidade – acham normal, talvez. A oposição nunca denunciará algo assim – deve estar de mãos dadas com o governo. E a grande mídia, muitas vezes ela própria corrompida, tampouco. Foi preciso que uma revista cult de Brasília escrevesse a respeito.
E tem gente que acha que o problema é o Tiririca.