Alienígena
Jogaram víboras nesse mar de lodo que circunda esta ilha chamada Inferno Astral. Ouvi da boca amiga "...você gostaria de fazer sexo com duas mulheres". Fiquei chocado em concluir que esta definição preconceituosa era irredutível, meus argumentos contra eram pífios e não fundamentados. Deixei de ouvir as palavras que saiam da minha boca até que ela se calasse. Estou incluído num todo do qual sempre lutei para estar distante. Por mais recluso que esteja nesta ilha, meu corpo circula entre o Todo. Pré-definições estarão sempre engatilhadas e apontadas para minha cabeça, prontas para a execução.
Quando adolescente, divertia-me em ser "do contra". Escolhi como algoz, dentre vários moralismos, o Moralismo Cristão. O Moralismo Cristão era o repressor na minha pré-vida. Eu alterava as letras das músicas que cantávamos na igreja - sempre colocando conotação sexual e torpe - escondia desenhos obscenos entre objetos escolares de minhas colegas e explodia o banheiro da igreja. Sentia que tinha uma luta e eu era uma eficiente arma. Na vida adulta existem várias guerras e, as guerras pessoais/individuais, são as quais o meu egoísmo tem a mania de se engajar. Acredito que os humanos têm uma tendência a desafios e concluo que nós, alienígenas, também. Invejo os que se engajam em causas para o Todo, abdicam de suas metas pessoais e lutam pelo bem comum. Mas as víboras da comodidade me impedem de fugir da introspecção, a ilha Inferno Astral.
Quando aquela idéia tornou-se sonora, vinda daquela bela boca, dei-me conta de que um dos meus inimigos havia sido vencido e, o mais angustiante, é que não havia sido derrotado por mim. Aquela boca, para qual idealizei um amor puro de minhas torpezas, não devia expelir tal profanação verbal. Quando ouvi "...você gostaria de fazer sexo com duas mulheres", ironicamente cobri-me de um moralismo cristão. Não tinha mais uma luta para vencer, fui derrotado. Era a vez de aquela boca ter o seu sexo casual, mas o meu "moralismo cristão" queria o amor do romantismo poético. O revés se aproveitou da oportunidade.
Depois do sexo retornei a ilha e à noite, cobri-me com a carapaça da concha, mas dentro dela há de repousar uma falsa pérola, sem nenhum valor comum. Alienígena hipócrita!