ENSINAR DE UMA FORMA, VIVER DE OUTRA. PÉSSIMO EXEMPLO.
Considerou-se recentemente, em razão dos escândalos dos políticos, que Sêneca combatia a injustiça com o silêncio e a paciência.
Só quem pode exercer essa postura evita a sedimentação da opinião contrária. A injustiça existe ou não, e o seu combate, mesmo no terreno dos fatos, são as provas, provas irrecusáveis, nunca meras alegações de filósofos que ensinavam de uma forma e viviam de outra.
Era assim Sêneca, e era Senador que serviu a Cláudio e a Nero.
Seu objetivo era ser orador e teve vida requintada que não
combinava com seus ensinamentos.
Não se deixar corromper, repelir o luxo e a luxúria,
viver na simplicidade eram seus ensinamentos, mas não sua vida.
Foi mais discursivo e feitor de imagens que estóico, mais desonesto que honesto e bem mais vinculado ao artifício do que à verdade.
Na juventude, contudo, teve uma vida recatada. Foi um brilhante advogado.
Possuía estilo estudado e elaborado, era acusado de teatral e sua morte em sacrifício, assemelhada a de Sócrates pelo meio de execução, inspirou artistas e pensadores.
A vida de Sêneca era bem diferente de sua obra.
Ficou no exílio por oito anos, retornando após.
Sêneca acumulava uma fortuna de 300 milhões de sestércios, que certamente não vinham de suas aulas de filosofia.
Em Roma, caíam em suas mãos testamentos dos velhos sem herdeiros. Muitos tentaram afastar Nero do filósofo, denunciando as imensas riquezas que ele havia acumulado durante os anos em que vivera na Corte e como Senador.
Sêneca queria ultrapassar o imperador, pelos atrativos de seu jardim e pela magnificência de suas casas de campo.
Seu orgulho o levou a acreditar que era o melhor orador do mundo. Se houve injustiça pela culpa que o levou à morte, nem o silêncio, que não praticou, nem a paciência que possa ter tido, o livraram da injustiça e da pena de sangrar até morrer, mas, diga-se, mostrou-se valente tomando veneno para acelerar a morte que não chegava.