SORRISOS PERDIDOS

Saí a caminhar por aí e levei comigo muitos sorrisos, pois dependendo da ocasião estariam eles lá no meu coração para usar à vontade, sem limite de tempo e de profundidade. Só que, não sei realmente como isso aconteceu, quando precisei oferecer um deles à gentileza das pessoas que me cumprimentavam adiante, percebi que os havia perdido no trajeto, não se encontravam no lugar onde os havia deixado. Procurei-os debalde, vasculhei cada área, cada recôndito, cada arquivo da memória sem conseguir descobrir onde se perderam os meus sorrisos.

Óbvio, constrangeu-me ter deixado cair alhures tantos ares de simpatia e olhares risonhos, contudo certamente não culpa minha. Restava-me seguir em frente e tentar, pelo menos, sorrir amarelo enquanto me vinha à mente uma deliciosa reflexão, um pensamento deveras enternecedor. É que eu pensava que não existissem anjos em nenhuma dimensão ou esfera, mítica ou humana, para mim isso não passava de incoerente ilusão. Então conheci a mulher mais angelical, mais doce, mais meiga, mais atenciosa, mais linda, mais celestial e simplesmente mudei de opinião o mais rápido que pude. Compreendi que essa maravilhosa mulher, pelo seu jeito carinhoso de ser, além das muitas qualidades acima enumeradas e tantas outras, só pode ser um anjo disfarçado vindo das hostes superiores para encantar a minha vida.

Senti incontrolável desejo de escrever um bilhete para esse anjo feminino dizendo de minha infinita felicidade ao lado dela, falar dessa emocionante alegria tornando-me a vida verdadeiro oceano de ternura. Talvez eu redija algo assim: "Nunca me basto de ti amada, cada tempo, cada olhar, cada beijo, cada abraço, cada noite ao teu lado, cada doçura em teu olhar, tudo se faz completo em meu ser. Ter-te é viver". Empolgou-me frase tão reveladora do sentimento verdadeiro fluindo-me n'alma. Taí, súbito reencontrei os sorrisos desaparecidos, porque ri feito criança pensando nessas veleidades dos apaixonados. Concluí, então, que um ardente beijo de amor levanta o astral de qualquer ser humano, a agradável carícia de suas mãos é tão ou mais rejuvenescedora do que a própria fonte da juventude, um ombro amoroso é melhor, mais suave e mais gostoso do que um travesseiro, no amor não há velhice, tudo é novo e revigorante para o casal que se ama e se deseja, e que, sem dúvida, um abraço aconchegante faz parar o relógio do tempo e a velhice tarda..

Esse descontraído jogging em busca do nada, a não ser reflexões que somente a mim revelam coerência, tendo perdido e encontrado os sorrisos, também me fez idealizar alguns axiomas nada ortodoxos, como esses: prefiro dormir só do que na companhia da saudade, esta só traz a melancolia do passado que jamais voltará; janelas são restos de esperança para muitos depois que as portas foram fechadas, e evidentemente elas existem para dar oportunidade a quem não logrou usufruir da abertura dessas mesmas portas às quais bateu.

Por fim, ciente de que sou realmente felizardo ao longo de anos e anos vividos, tornou-me perceptível quantos sorrisos agora transbordavam-me o coração, brotavam aos inúmeros, iam e vinham, e eu já notava que fluíam abundantes às minhas passadas, os circunstantes me olhando surpresos por verem a mim, um homem todo sorridente de bermuda azul, camiseta cor de gelo, calçando tênis de atleta, distribuindo montanhas de sorrisos aos passantes como uma criança feliz porque acabara de ganhar inigualável presente.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 23/08/2011
Reeditado em 25/08/2011
Código do texto: T3178221
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