Um amor homossexual que não foi louco




Reabertura do Cinema de Arte, agora no Kinoplex, no Shopping Maceió, para alegria dos cinéfilos, principalmente dos que renunciam ao lindo sol na praia,nas manhãs dos sábados. “O louco amor de Yves Saint Laurent” foi o filme francês, de 2010, escolhido. É um documentário apresentado pelo seu sócio e ex companheiro por muitos anos, Pierre Bergé. São mostrados filmagens e gravações que antes não tinham sido vistos por ninguém.Yves e Pierre se encontraram, pela primeira vez, no enterro de Christian Dior, de quem Yves era discípulo, desde os 21 anos. Assume a empresa Dior como estilista, sendo a partir daí um constante sucesso. Yves mostrou-se muitíssimo talentoso e o mundo passou a reconhecer o gênio da moda que despontava e prometia se conservar como referência como um estilista empolgante pela criatividade e constante inspiração no belo, inclusive muitas de suas peças sendo inspiradas em artistas do mundo da arte, de quem era grande admirador e colecionador de valiosas peças. Ficou, após deixar o empório Dior, 40 anos à frente de sua empresa, Yves Saint Laurent Couture House. Seu trabalho foi marcante para todo o mundo da moda, já que popularizou o “prêt-a-porter” no mundo, nos anos 60, retirando a moda dos salões de alta costura, embora lamentasse o vestir bem estar mais destinado às mulheres com dinheiro. Ao elaborar suas peças para os desfiles, o misterioso estilista buscava fazer com que a mulher, ao usar suas produções, se sentisse segura, com domínio de si ao se apresentar aos outros.
Sobre Yves, ficou demonstrado até os fins de seus dias, em 2008, em Paris, uma dependência afetiva para com seu marido Pierre. Era muito depressivo e vivia numa insatisfação com sua vida. O que vi foi um amor sensato, tolerante de Pierre para com Yves. Quando o estilista se envolve com as drogas e o álcool houve algumas separações, mas não duráveis, já que Pierre não conseguia ficar além da rua de seu amado.Voltava sempre a pedido de Yves. Pierre foi o sustentáculo financeiro e emocional do estilista e, em nenhum momento, vi afetação na forma de Pierre se comportar, nem considerei um amor louco. Vi um amor durável, com muita compreensão por parte de Pierre. Por todo o filme é mostrado um homem sério, respeitoso, sem trejeitos que tanto incomodam as pessoas. Lembro de um e-mail de um brasileiro que é homossexual, que vive na França. Ele assume sua condição sexual, com respeito e declara que é algo que só interessa a quem está na relação, dentro de quatro paredes. Repudia os que são homossexuais e fazem estardalhaço de sua condição. Conheci há pouco tempo um médico que vive casado há uns dez anos com um companheiro e, por ter seu comportamento decente, é respeitado por toda a sua classe profissional. A opção sexual não tem nada a ver com o caráter e a forma de se comportar da pessoa. Um colega deste profissional, vira-se, em um jantar, e me fala: “Este é muito mais macho do que muitos dos meus colegas. Profissionalmente é brilhante e tem uma conduta exemplar.”
Quanto ao Yves, não se fala, no filme, sobre suas origens, embora dá para supor serem modestas. Nada se fala sobre sua família. Parece que o estilista surgiu do nada; foi uma das falhas que percebi. Seu sucesso deve-se à sua competência, mas também por ter ao lado um marido que era um grande e atuante empresário.
Do filme, tirei a lição sobre a dependência emocional de algumas pessoas. Não importa se são independentes financeiramente. Há pessoas que nunca aprenderam a assumir as rédeas de sua vida, outras nunca quiseram aprender a quebrar os nós emocionais. Se tiverem sorte de ter alguém que possa dar o apoio que se necessita, tudo bem. A sorte de Yves é que partiu primeiro, não sentindo o vazio e ter que aprender a se virar na vida, embora já com idade avançada. Por fim, Pierre organiza um leilão das inúmeras obras de arte que pertenciam a ambos e, após as fortunas obtidas, o leilão mais lucrativo da história, 370 milhões de euros, não divulgado no filme, não fica claro o que ele vai fazer da sua vida com a morte do seu grande e eterno amor. Yves morreu em 2008, vítima de um câncer cerebral, e já havia se “aposentado” da profissão.

Edméa
Enviado por Edméa em 23/08/2011
Reeditado em 23/08/2011
Código do texto: T3178066