Vizinhos
Dia do Vizinho
Não importa onde se more. Sempre haverá um vizinho. Na cidade ou no campo. Pelo norte, pelo sul, a leste e a oeste.
Boa regra é os que chegam tomarem a iniciativa de se apresentarem aos já fixados no local. Boa regra os já moradores visitarem os que chegam, com a gentileza da acolhida e com a oferta de préstimos no caso de alguma necessidade.
Qualquer das duas atitudes é boa abertura para um relacionamento que pode amadurecer para a amizade. Sempre é benéfico vizinhos tornarem-se amigos, em lugar de se acomodarem na mera proximidade física, como tijolos empilhados que não se conhecem mutuamente.
Cora Coralina, autora da proposta do dia do vizinho (celebrado a 20 de agosto, por ser a sua data natalícia), chegava a dizer que vizinho é mais importante do que parente, pois conhece mais da vida da gente, já que convive diariamente conosco, nem que seja dividindo o mesmo portão eletrônico da garagem ou o mesmo elevador. Isso sem falar no som alto que liga aos sábados ou no churrasco que faz no domingo, assando a carne rente ao muro, ao lado do quarto da gente. Ah! O cheiro da picanha!
Quando as religiões nos mandam amar o próximo, podemos compreender o próximo como o vizinho. É o próximo mais próximo. Cora Coralina, nossa maior poetisa do cotidiano caseiro tinha agudamente essa sensibilidade mineiro-brasileira que os goianos aprimoraram numa sociedade de relações anônimas em que ninguém conhece ninguém.
É fundamental amar a todos. O tibetano, o turco lá do outro lado do mundo. A criança esquálida da Somália ou Haiti. A mocinha sufocada sob a burka das Arábias. Mas nada tão exigente e desafiador quanto amar o vizinho, o que está ao nosso lado. Afinal, o vizinho é o rosto humano do divino.
“- Valha-me Deus!...
As visitas...
Como eram queridas,
Recebidas, estimadas.
Conceituadas, agradadas!
...
Dona Aninha com seu Quinquim.
Dona Milécia, sempre às voltas
Com receitas de bolos, assuntos
De licores e pudins.
Dona Benedita com sua filha Lili.
...
Mestra Quina, dona Luisalves
Saninha do Bili, Sá Mônica
Gente do cônego Pio”...
Cora Coralina, Antiguidades – Poemas dos Becos de Goiás .-