O Pão que os Anjos comiam
Já estão desmoronando os fornos à lenha feitos com os tijolos maciços.Mas houve um tempo em que eles eram comuns e por ali os mais saborosos pães, doces e assados se fizeram para delícia de todos.
Tempos difíceis já disseram alguns. Tempos felizes dizem os mesmos.
Parece não haver muita simetria entre dificuldade e felicidade.
Mas, lembrando no jantar de ontem sobre as roscas da padaria, relembramos os tempos de crianças e o famoso forno à lenha e as suas criações.
Minha mãe lembrou do tempo do sítio onde um deixava a roça mais cedo para em casa já alimentar o fogo no forno e preparar a massa para os pães assar. Num tempo de muitos filhos de 6 a 12 pães era normal e quanto mais delicioso mais pouco parecia...
Meu irmão e eu serramos muita lenha para estocar no rancho e dali devidamente partidas alimentar o fogo de nossas tentações... Os bolos e roscas eram as preferidas.
O pão nem esfriava e lá estávamos nós com a serra e a disputa pelo “toco” a parte inicial do corte do pão.
As roscas e as canecas de leite quente, os doces e as suas partituras. Os pedaços eram contados e cada qual tinha o seu quinhão para não haver brigas em plena mesa de confraternização.
Pergunto-me às vezes se o tempo tem algum sabor especial.
Pode ser que sim.
Ainda sinto o sabor daqueles assados, vejo-me afoito por querer um pedaço maior e em minha volta sinto a presença de tantos que riam e comiam, falando todos ao mesmo tempo como anjos protetores em momento de descontração.
É Tempo difícil aquele em que éramos felizes.
Hoje temos roscas parecidas, pães com diversos sabores, mas alguma coisa mudou.
A ansiedade tomou conta da nossa mesa.
O principal compromisso não é mais a mesa posta, a família reunida e os assuntos em dia.
Talvez estejam faltando alguns temperos nestes alimentos para unir todos, novamente...
O sabor dos amores que todos transpiravam desde o corte da lenha, o feitio da massa e o repartir do pão