Se eu pudesse parar o tempo


Ah, se eu pudesse voltar no tempo, mudar o rumo dos acontecimentos, eu pararia o relógio antes das dezoito horas daquele dia fatídico.
Dezenove de março era um dia especial para nós, dia do nosso santo que escolhemos para ser nosso protetor, São José, justamente nesse dia aconteceu à pior coisa que já tinha passado em minha vida.
Meu marido começou a sentir falta de ar de repente e sem saber o que fazer, peguei o carro e levei-o até o centro de atendimento médico.
Mas assim que saímos, eu percebi que o caso era muito grave, pois ele mal respirava ...Uns dois minutos depois de termos saído de casa sua cabeça caiu no meu ombro, e eu só sabia dizer a ele, não morra meu amor, não morra, por favor, espere um pouco, logo você será medicado.
Nem sei como conseguimos chegar ilesos ao hospital no meio do movimento do horário de pico, mas eu buzinava tanto que as pessoas mesmo bravas me davam passagem, deviam me achar louca e acho que naquele momento eu estava mesmo, louca de pressa, de nervosismo, não via a hora de vê-lo sendo cuidado, medicado, curado enfim.
Ha, se eu pudesse voltar no tempo, se tivéssemos falado do amor que sentíamos, diria que ele era a parte da minha vida, hoje eu sei que ele foi e será de fato meu primeiro e verdadeiro amor de sempre.
Não valorizamos nosso amor tanto quanto deveríamos, afinal quando estamos com saúde achamos que temos todo o tempo do mundo, e com a gente não era diferente, depois de tantos anos juntos, já não havia muito o que conversar, ele cuidava da parte dele e eu da minha e assim o tempo foi passando sem grandes sustos.
Agora eu estava ali a caminho do hospital rezando para que não fosse tarde demais, para que eu pudesse ajudá-lo, mas infelizmente não houve tempo, quando parei na porta do hospital meu filho parou atrás de mim; ao sair de casa eu ligara no escritório dele e pedi que fosse rápido para o hospital, e mais nada.
Ele carregou o pai para dentro do pronto socorro, junto com um senhor, que até hoje não sei quem é.
Os médicos fizeram todo procedimento possível, mas já era tarde demais.
Alguém me chamou e disse que nada mais podia ser feito e desde então eu vivo a pensar porque teve que ser assim, os médicos disseram que ele sofrera um infarto muito forte e mesmo que ele estivesse dentro do hospital, dificilmente se salvaria.
Eu me sentia impotente por não ter podido de salvá-lo, jamais imaginei passar por um momento desses, só  dizia para mim mesma, não é verdade, isso não está acontecendo, é um terrível pesadelo, afinal ele era forte e saudável. Durante os próximos dias eu fiquei como que em transe, só depois é que veio a lucidez, ele não voltaria mais, não era só mais uma viagem, era a última viagem e não tinha mais volta...
Ah, se tivéssemos tido uma segunda chance, mas infelizmente ele não sobreviveu e eu não conseguia entender porque teve que ser assim, porque ele teve que morrer tão de repente, parece tão normal aceitar quando é com os outros, mas agora eu percebia a dimensão de como é doloroso essa perda... Além da minha dor, tive que tomar todas as providências cabíveis quando algo assim acontece...
Mas acho que se não tivesse algo para ocupar minha mente, não sei se suportaria tanta dor.
 É como se de repente o mundo tivesse desabado e eu não pudesse fazer nada, a não ser chorar escondida, pois não queria que ver meus filhos  preocupados, afinal se eu perdi meu marido, eles perderam o pai e deviam estar sofrendo tanto quanto eu.
Até hoje depois de tanto tempo da sua morte eu ainda sinto tanto, tanto...
A saudade é muito grande, e eu não sei se vai passar um dia, de qualquer forma acho que sua imagem estará sempre em minha lembrança e no meu coração.
Assim a vida segue seu curso sem que ninguém perceba o que se passa em minha alma... Pois nem tudo é visível aos olhos!