HOMENS INSEGUROS OU APENAS SENSÍVEIS?

Ao longo dos meus cinquenta e poucos anos tenho ouvido mulheres dizerem que somente desejam se relacionar com homens seguros. Escutei, gravei na memória e passei minha vida toda almejando ser um homem seguro, porque assim eu estaria agradando as mulheres, objeto maior do meu desejo de macho acidentalmente heterossexual. Mas aí surgiu-me a primeira dúvida; como posso ser eu um homem seguro se preciso de uma mulher para me sentir melhor, mais feliz e afinal tornar-me um ser realizado? Não, algumas concessões hão de ser feitas, até porque estamos, nos tempos modernos, rejeitando as propostas extremistas de grupos radicais nas várias áreas do relacionamento humano; portanto, nada de radicalismos, posso ser um homem “quase” seguro, para poder atender uma “quase” necessidade imperiosa de ter contato com um corpo feminino delicado, carinhoso e que foi, por todos os séculos de minha existência, a emoção mais potente que senti. É, definitivamente, “quase” seguro me cabe melhor e gostaria de dizer, às mulheres que exigem um homem “absoluta-mente” seguro, que terei de abrir mão delas, embora muito a contragosto, pois poder escolher sem restrições me parece muito mais agradável.

Um pouco deprimido com essa perda, tratei de me convencer que as mulheres que exigem homens “absolutamente” seguros devem constituir uma minoria pouco representativa e afinal jamais tive a pretensão de me relacionar com todas as mulheres do mundo. Por Deus, obviamente que ainda tenho chances enormes de que uma mulher que quer se relacionar com homens seguros possa me dar uma chance, apesar do meu pequeno defeito. Então, nova dúvida; o quê será que elas querem dizer com a expressão “homem seguro”?

Antes de fazer uma enquete científica pensei em fazer a pergunta a algumas amigas mais próximas. Primeiro notei uma certa relutância nas respostas. Parece-me que elas também tem sérias dúvidas sobre o tema. Uma delas foi extremamente criativa e bradou: “Pelo amor de Deus, chega dessa estória de homens sensíveis, eu quero um Brucutu! Estou cansada de ser chamada de forte! Outras me descreveram um Deus grego, que como todo mundo sabe, foram figuras idealizadas pela humanidade quando ela ainda era uma criança que engatinhava e recém tinha começado a balbuciar algumas palavras inteligentes. Em outros termos, seres existentes apenas na imaginação.

Ainda outras fizeram referências a situações econômicas, concepções ideológicas concretas e uma desesperada me confessou que, “...nas atuais circunstâncias, não me chamando de mãe, nem mijando nas cuecas, já acho que o cara tem um certo grau de segurança...”. Exageros à parte e depois de duas garrafas de vinho acompanhadas de toda a coleção de músicas do Chico Buarque acabei me convencendo que não conseguiria uniformizar um conceito razoável sobre o que as mulheres chamam de “homem seguro”. Passada essa fase frustrante, mais uma pergunta veio me arrasar e desta vez em meio a uma tremenda ressaca. Por quê, Diabos, elas precisam de um “homem seguro” para serem felizes? Aí me lembrei dos tempos das cavernas, em que ficavam em casa cuidando da prole (e garantindo a sobrevivência da espécie) e eles saíam à caça para garantir a sobrevivência da família. Certamente eram “homens seguros”, mas nos tempos modernos ninguém mais caça bisões! As mulheres trabalham, independem do homem para sobreviver (pelo menos a maioria das que eu conheço). Se elas independem do homem para garantir a própria sobrevivência, quer Diabos vão fazer com um “homem seguro”?

A revolução feminina que, ao contrário do que pregam, não foi uma iniciativa delas, mas do mercado que precisava cada vez mais de mão de obra e barata, serviu para tirar de nossos ombros a necessidade de sermos “seguros”. Se elas ficaram “seguras”, já não precisam de homens “seguros”.

Depois de muito pensar a respeito, passei a desconfiar que essa exigência de algumas mulheres é mera desculpa para esconder a verdadeira incapacidade de se relacionar com os homens sensíveis, amorosos e compreensivos que foram brotando no turbilhão da tão badalada “revolução feminina”.

Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 21/08/2011
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