O Último Natal
Ninguém sabia realmente que aquele seria o último Natal, mas como se adivinhássemos, estávamos todos lá. Não faltou ninguém e também não faltou nada.
A mesa com a deliciosa ceia, arrumada delicadamente, como se fosse um banquete. As crianças e adolescentes brincando ou conversando; nós, os adultos tomávamos conta de tudo. Havia música, havia orações, havia comida. E todos unidos.
Mas inconscientemente eu tinha uma pontinha de tristeza, sem nenhuma justificativa, sem nenhuma causa aparente.
As fotos revelavam sorrisos que nunca mais teríamos. Éramos nós, uma família, uma estrutura elaborada ano após ano. Lá estava o nosso Natal.
Não que fosse um Natal melhor que dos outros, de fato não era, e por isso, muitas vezes, invejei o Natal mais alegres de algumas famílias, ou mais regado a vinho, ou com mais presentes. Eu sentia algo, mas não imaginara que seria o nosso último Natal.
De fato, muitas vezes é tardio o valor que damos às coisas. E então, temos que reinventar uma alegria, uma esperança, um desejo... temos que reinventar a vida.
Nosso telhado é de vidro, nossas aldeias são desprotegidas, somos tão frágeis diante do mundo; e o mundo é frágil diante da gente.
Logo após o Natal, tudo aconteceu. Abateu-nos a dor da separação.
O próximo Natal ainda não chegou, e sua proximidade me dá medo. Posso ter a doçura das palavras, mas não tê-las no coração.
Teremos que reinventar um novo Natal...
Talvez ele seja melhor que o outro, ou não; talvez ele não seja tão repleto de tudo, ou não; mas ainda será o nosso Natal, ainda que muito diferente, será o Natal que temos ou o que merecemos ter.