A BOTIJA DE JARARACA

Existia em Mossoró, no Rio Grande do Norte, um cidadão conhecido por Chico do Rosário, que residia com a família numa casa situada no bairro Doze Anos e comercializava carnes nas imediações do conhecido bairro "Saco". No dia 13 de junho de 1927 ele se encontrava em seu estabelecimento comercial, quando o portador do bilhete de Lampião ao Prefeito Rodolfo Fernandes o encontrou, avisando-lhe, então, do propósito dos cangaceiros, que já se encontravam próximos, aconselhando que ele deveria fechar a bodega. Seu Chico agradeceu, fechou o estabelecimento e se dirigiu para o lar onde já se encontravam outras famílias à espera de transporte. Foram todos levados para vários pontos da cidade, ficando Chico do Rosário e família arranchados numa casa, próximo à trincheira da igreja de São Vicente, onde permaneceram até o fim do combate.

Com a prisão e morte de Jararaca, a cidade voltou à rotina. Certo dia, Chico do Rosário dirigiu-se ao "Saco", a fim de trazer alguns animais que comprara. Atravessou a ponte do trem e continuou seguindo o seu caminho quando ouviu uma voz lhe chamando. Procurando o autor da voz, reconheceu o mesmo como sendo o bandido Jararaca, que ele havia visto algumas vezes na cadeia, antes do mesmo ser "justiçado" pela polícia, trajando a mesma roupa de quando havia sido preso. Mesmo sabendo que o bandido estava morto, Chico do Rosário não teve medo. Aproximou-se e ouviu o mesmo dizer:

"- Eu lhe chamei para lhe dar um negócio. Tá vendo esse pau enfincado?" Perguntou o espectro de Jararaca.

"- Tou! " Disse o marchante.

"- Apois tire o pau daí, cave um pouco, no buraco tem uma caixa com 22$000 (vinte e dois contos de réis) e um punhal com duas alianças de ouro. São seus."

Chico do Rosário fez exatamente como lhe dissera Jararaca, inclusive repassando o valor. De posse do dinheiro, do punhal e das alianças, ele levantou-se para agradecer tão generosa oferta, no entanto não havia mais ninguém no local além dele; o espectro desaparecera inexplicavelmente.

Ainda sem nada temer, guardou os valores e prosseguiu seu destino. De então em diante sua vida mudou por completo, comprou uma grande casa e continuou no comércio de carnes, agora de forma mais acentuadamente diferente:por obra do destino, possuía uma pequena riqueza.

Este fato me foi narrado por um senhor chamado José Bruno da Mota, que adiantou ter visto o punhal diversas vezes e ter sido o próprio Chico do Rosário que o teria contado da maneira acima descrita.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 21/08/2011
Reeditado em 21/08/2011
Código do texto: T3172658
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