ALCOOLISMO: PERDENDO O CONTROLE DA VIDA

Quando afirmo que o álcool mata, não estou fazendo um jogo de palavras. Mesmo o bebedor ocasional, se beber e dirigir, mata no trânsito. Minha intenção, porém, é falar sobre aqueles que perderam o controle sobre o ato de beber, pois conheço bem a situação uma vez que a vivenciei.

Talvez eu jamais consiga transmitir a quem não bebe (ou sabe beber), o que é a sensação de acordar as quatro da madrugada, olhar-se no espelho, toda inchada, suplicando a Deus para não beber. Aí, avistar a garrafa escondida no banheiro, escondida por nós mesmos em toda a casa, nos lugares mais absurdos possíveis. Trêmulo, pegar a garrafa e beber no gargalo mesmo. Aceitar até morrer de acidente, mas não aguentar mais a morte lenta, sofrida e desesperadora do álcool. Só outro alcoólatra é capaz de entender o desespero de alguém que sai de madrugada, esquecendo os perigos da noite, para comprar bebida. Ou beber álcool de cozinha porque acabou a bebida em casa. Só outro alcoólatra para entender que, no início, começa-se a sentir vontade de beber em determinado horário. E os horários vão aumentando até termos que beber de manhã para adquirirmos forças de enfrentar a claridade do dia e fazer sumir o tremor das mãos. Depois vem a negação, a raiva, as brigas, a culpa, os lapsos de memória, o aumento dos apagões à medida que a doença avança. Não saber o que fez enquanto alcoolizado, acordar num lugar estranho sem saber como chegou lá, checar o carro para ver se tem alguma batida, sair de casa de cabeça baixa com receio de enfrentar o olhar dos vizinhos. É como acordar de uma anestesia e ver um pedaço do seu corpo faltando.

Essa loucura toda só pode ser dita a alguém que compreenda, que sabe o que é isso porque também vivenciou. Aí é que entram os Alcoólicos Anônimos. Quem chega ao AA está no fim da linha, ou seja, "eu não aguento mais isso". O AA é como um útero para o alcoólico. Nos acolhem, nos aceitam, não criticam. Afinal, todos estão no mesmo barco, cujo lema é "só por hoje". Assumir que é alcoólico é o primeiro passo. O AA torce por nós, o AA depende de nós, nós dependemos dele. A força do AA reside nisso.