Solidão
 
                 Lendo o Estado de Minas de domingo passado (aquele que o entregador conseguiu jogar no telhado) encontrei no caderno Bem Viver o texto do Psicólogo/colunista Antônio Roberto em que ele tenta explicar para uma leitora que se queixa de solidão, o seu ponto de vista sobre o assunto.
 
              Acho o nome Antônio Roberto pouco apropriado para um psicólogo, mais parece nome de personagem de Chico Anísio, talvez porque me lembre daquele personagem almofadinha, o Alberto Roberto ou algo semelhante, já me esqueci. Mas Antônio Roberto é bom de serviço, tanto nas letras quanto no bom senso.
 
              O caso é o seguinte: a moça consulente diz que é solteira e sente uma enorme sensação de solidão. Sua grande questão é saber se sentirá isso por toda vida, como uma condenação ou se encontrará um companheiro para acabar com a solidão. Fiquei curiosa para ler o parecer de Antônio Roberto já tendo eu opinião formada: certamente que a pobre leitora já está condenada, com ou sem companheiro ela sentirá isso por toda a vida, a menos que mude o foco da própria vida. Eu lhe diria isso na lata, assim de cara, e ainda lhe diria que, para uma pergunta dessas seria melhor ela consultar uma vidente. Ou tirar no par ou ímpar. Certamente eu nunca seria uma boa consultora sentimental. Mas o colunista com toda calma arguiu com belas palavras, belas e sensatas que eu, concordando com elas, acabei também refletindo sobre o assunto.
 
          AR faz uma analogia com os filmes norte americanos que, com seu usual final feliz, condicionou a todos, mas principalmente as mulheres, a ter como eixo da própria vida a ideia de que o único jeito de ser feliz é se casando. Então a pessoa passa a vida, não procurando ser feliz, mas procurando uma pessoa que a faça feliz. Não sei se podemos jogar a responsabilidade toda nos filmes norte americanos visto que, até gente que nunca viu um filme norte americano ou uma novela da Globo pensa assim e por isso desperdiça uma enorme energia focando no outro o que deveria buscar dentro de si próprio. Acho isso próprio da cultura ocidental e cristã onde se quer tudo arrumadinho e ajeitadinho, porque é assim que Deus quer.
 
 
 
                O colunista continua argumentando baseado na compreensão de que há uma enorme diferença entre estar só e sentir solidão.   Lembrei-me de uma semana que passei sozinha em BH, só falando as palavras que a civilidade e a necessidade me obrigavam, mas em nenhum momento eu senti solidão. Eu estava comigo mesma e costumo dizer que sou a melhor companheira que eu poderia ter – pelo menos eu não me aborreço e respeito minhas necessidades de silêncio.
 
              Penso que ele está certo. Ninguém realmente pode fazer o outro feliz porque a felicidade é uma questão individual e interna. Essa história de passar a vida buscando preencher o vazio através do outro nunca dá certo. O que não significa que as pessoas não possam ser felizes juntas – podem sim, desde que cada um seja responsável pela sua própria felicidade e respeite a do outro. Essa mania de colocar no outro, qualquer que seja o outro, a responsabilidade sobre a própria vida é que estraga tudo.