Hoje eu vou mudar
“Hoje eu vou mudar/Vasculhar minhas gavetas/Jogar fora sentimentos e ressentimentos tolos.”... Assim começava a canção interpretada por Vanusa, de sua composição e Sérgio Sá, segundo a internet. Mudanças estão a nossa volta, em nossa mente, em nossas ações. Nem sempre precisam de um novo espaço para acontecer. Podemos mudar no lugar em que estamos.
Evidentemente há os que preferem fazer o Caminho de Santiago de Compostela ou participar de outra peregrinação. Tudo bem! Mas até para ir a Galiza, para a maioria, é necessário uma mudança prévia, isto é, se pudermos chamar de mudança o desejo de organização. Organizar as finanças para ter dinheiro para a viagem em busca da simplicidade. Organizar os hábitos de exercícios físicos para sustentar a caminhada. Organizar a mochila dispensando tudo que é supérfluo para estar sobre os ombros. Organizar o tempo de férias, ordenar os documentos, rever as ideias sobre alojamentos coletivos...
E se não quisermos ou não pudermos sair do nosso chão? Como poderemos nos despojar desse mundo de coisas desnecessárias que carregamos? Foi assim com Noé.
***
Um belo dia Noé acorda e vê que a barca partiu levando até seu cachorrinho de estimação. Não tem mais ligação com ninguém. Também não quer partir. Sente que o elo que deseja com pessoas, animais, coisas não virá de fora. Sentir-se ligado a outrem independe de espaço, está além do tempo, inclusive. Sai da zona de conforto (que é a mesma de desconforto). Põe-se a pensar em organização. A “zona” é total e aparentemente incorrigível! Noé desanima.
Num outro dia Noé pensa, pensa, pensa. Na imaginação faz tudo o que é necessário. Organiza as contas. Não gastará mais com livros, que levaria vidas para ler. Já não compra mais discos de música, pois o momento é de gastar com filmes. Disto não abre mão! Em pensamento troca o vídeo doméstico pela tela grande de cinema. Dois em um. Assistir filme em tela grande e som espetacular; sair de casa e experimentar o convívio com outros humanos e seus cheiros de pipoca amanteigada que ele odeia. Limpa a casa com o melhor detergente, abre janelas e portas. Tem mania de limpeza. Por enquanto, sua mania consiste em estocar material de limpeza. Depois organiza gavetas, armários, papéis, seguro de vida (deixará para quem?). De tanto pensar, Noé está fatigado. Chegou o momento de descansar. Mais um dia passou.
Noé já não aguenta mais. Deseja uma mudança. Qualquer mudança que lhe desperte felicidade. Mas por não saber bem o que é felicidade, o medo lhe impede qualquer ação que não seja a do pensamento. Um dia Noé irá despertar e a barca terá voltado.
“Hoje eu vou mudar/Vasculhar minhas gavetas/Jogar fora sentimentos e ressentimentos tolos.”... Assim começava a canção interpretada por Vanusa, de sua composição e Sérgio Sá, segundo a internet. Mudanças estão a nossa volta, em nossa mente, em nossas ações. Nem sempre precisam de um novo espaço para acontecer. Podemos mudar no lugar em que estamos.
Evidentemente há os que preferem fazer o Caminho de Santiago de Compostela ou participar de outra peregrinação. Tudo bem! Mas até para ir a Galiza, para a maioria, é necessário uma mudança prévia, isto é, se pudermos chamar de mudança o desejo de organização. Organizar as finanças para ter dinheiro para a viagem em busca da simplicidade. Organizar os hábitos de exercícios físicos para sustentar a caminhada. Organizar a mochila dispensando tudo que é supérfluo para estar sobre os ombros. Organizar o tempo de férias, ordenar os documentos, rever as ideias sobre alojamentos coletivos...
E se não quisermos ou não pudermos sair do nosso chão? Como poderemos nos despojar desse mundo de coisas desnecessárias que carregamos? Foi assim com Noé.
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Um belo dia Noé acorda e vê que a barca partiu levando até seu cachorrinho de estimação. Não tem mais ligação com ninguém. Também não quer partir. Sente que o elo que deseja com pessoas, animais, coisas não virá de fora. Sentir-se ligado a outrem independe de espaço, está além do tempo, inclusive. Sai da zona de conforto (que é a mesma de desconforto). Põe-se a pensar em organização. A “zona” é total e aparentemente incorrigível! Noé desanima.
Num outro dia Noé pensa, pensa, pensa. Na imaginação faz tudo o que é necessário. Organiza as contas. Não gastará mais com livros, que levaria vidas para ler. Já não compra mais discos de música, pois o momento é de gastar com filmes. Disto não abre mão! Em pensamento troca o vídeo doméstico pela tela grande de cinema. Dois em um. Assistir filme em tela grande e som espetacular; sair de casa e experimentar o convívio com outros humanos e seus cheiros de pipoca amanteigada que ele odeia. Limpa a casa com o melhor detergente, abre janelas e portas. Tem mania de limpeza. Por enquanto, sua mania consiste em estocar material de limpeza. Depois organiza gavetas, armários, papéis, seguro de vida (deixará para quem?). De tanto pensar, Noé está fatigado. Chegou o momento de descansar. Mais um dia passou.
Noé já não aguenta mais. Deseja uma mudança. Qualquer mudança que lhe desperte felicidade. Mas por não saber bem o que é felicidade, o medo lhe impede qualquer ação que não seja a do pensamento. Um dia Noé irá despertar e a barca terá voltado.