Você é jovem?
 
 
                               Amigos,  acho que sou jovem! Que constatação legal! Não estou falando da idade cronológica. Deixemos essa idade de lado...
                               Estou falando de sentimentos, muito mais importantes que data de nascimento.          Vou explicar: relendo outro dia uma crônica do grande Artur da Távola, o vejo afirmando que ser jovem  é ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. E com aquela sua sensibilidade admirável, também dizia que ser jovem é ser capaz de anestesias  salvadoras .
                               Anestesiar  meus tropeços, as pancadas que levei, felizmente poucas, mas bem fortes, o medo de tudo, inclusive das pessoas, naqueles tempos que costumamos dizer que foram felizes, mas não tanto... Estou sabendo agora pelo meu amigo de afinidades que fui um anestesista de primeira linha.  Não tivesse sido um bom anestesista, talvez até tivesse sucumbido.  E as inexplicáveis atrações continuam, mas que diabo!  
                               E o nosso cronista existencial desfila  saborosamente as características do jovem.   Mas paro por aqui com o notável   cronista, agradecendo a inspiração.
                               Tentarei passar, na minha visão,  como um gostoso exercício, alguns   comportamentos reveladores  da jovialidade.       
                               Por exemplo,  os dentistas que conheci, todos com idade acima de 50, eram  jovens. Aliás,  há um mistério com essa profissão, pelo menos na minha experiência. Todos trabalham cantando ou assobiando.  Atualmente, o meu velho dentista, além de assobiar, gosta de cantar todas as músicas do Adoniran Barbosa. Já sei de cor “Tiro ao Álvaro”: “ de tanto levar frechada do teu olhar/ meu peito até parece sabe o quê?/ táubua  de tiro ao Álvaro/ não tem mais onde furar”.  Já contei isso para os amigos e amigas, mas não custa repetir. Quando estava com meu vinte e poucos anos, o meu dentista era o Dr. Marcus Vinicius, Diretor do Flamengo. Pois bem, naquele espaço de tempo em que era preciso  esperar “secar” a obturação, ou coisa parecida, já não me lembro mais, o Dr. Marcus, parecendo um personagem  Hamletiano, recitava:  “Ó, meu Deus, matai-me enquanto sou anjo puro,  porque depois que eu me tornar um pecador, não vai mais adiantar”.  Não vou nem  relembrar, mas já relembrando, o Dr. Herbert, que me deixava de boca aberta, abandonava o consultório e ia passear com a sua mais nova namorada na Barra da Tijuca. Pergunto: esses caras são ou não são jovens?
                               Essa turma, com certeza, acorda cantando e prefere ir à praia com chuva torrencial, como eu fiz várias vezes. Mergulhar no mar com chuva é uma delícia à parte.
                               Gostar de rir, não se levar muito a sério são características de jovem.
                               A pessoa que gosta de mistérios, que ainda  acredita no ser humano, que tem certeza que o mundo vai melhorar,  que gosta de contar “causos”, recita poemas, posso afirmar, essa é uma pessoa jovem.
                               Hoje é sábado. Neste dia costumo fazer reflexões e meus bons amigos até gostam de refletir junto comigo.  Mas, afinal, com essa sensacional descoberta que também sou jovem, não ficou melhor para os jovens leitores  esta crônica amena?