O dedo apontava para as cinzas...
Era verão. O vento soprava tépido.
A aurora nasceu com um matiz rosado. Pedro Paulo contemplou a magia das primeiras horas do dia e foi para o trabalho.
Naquele dia o calor estava insuportável, as horas passaram e entardecia com a proximidade do poente.
Pedro Paulo saiu exaurido do trabalho e enveredou para o lar.
Alguns quarteirões antes de chegar em casa vislumbrou uma cortina de fumaça.
Uma nuvem negra ziguezagueava no céu.
Lívido e perplexo pensou: ”É sonho ou miragem?”
Seus olhos embaçados não mais enxergavam.
Incrédulo e trêmulo caminhou entre a multidão, amargando sua dor.
Dor contida de uma vida árdua. Lágrimas e suor se mesclavam.
De inopino, desprendeu um sorriso dos seus lábios, momento apoteótico quando sua família o circundou.
Face a face com um repórter as palavras morreram-lhe na garganta...
Um soluço profundo escapou do seu peito.
Seu dedo apontava para as cinzas, que denunciavam sua desdita, sua morada jazia encravada no chão.
Tudo isso era fatalidade ou omissão?
Era problema de ordem natural ou política?
O olhar do moço vagueou para os prédios imponentes, que pareciam alcançar o topo do mundo.
Pedro Paulo de joelho monologava: “Que tristeza, a pobreza ao lado da riqueza!
Um país tão rico e com tantos contrastes!"
No recôndito de sua alma sentiu uma amargura inaudita.
Pensou: “Hoje é um dia de trevas. Quiçá, amanhã será de luz!”
O sonho de um futuro promissor continuou adormecido nas entranhas de Pedro Paulo. E a vida continuou inexorável...