HORA DA INCERTEZA



Antes de ir pra cama, vou soltar um pouco de palavras que estão travando tristeza dentro de mim. Terminada a novela, sem valor, não deu nem para distrair. E ficou foi um amargo sabor de tristeza da vida, de inutilidade, de pouca coisa em mim ou indeterminação na alma, ou em algum lugar, sem um ou uma alguma coisa para contar. Ou para saber. O que sei de mim? O que quero dizer a mim mesma? Dizer? Sim, eu queria saber dizer a mim mesma o que eu precisava ouvir para me acolher, amansar o inquieto pensamento vazio. Que coisa estranha, este desconforto de alguma coisa indefinida só beirando o redor como a querer se concretizar e virar palavras. E depois de sabidas, dizê-las. Dizer é tornar real, é estar vivendo. Nem sempre a gente sabe dizer a si mesma uma coisa não sabida. Algo que beira a tristeza se eu permitir. Mas não estou neste caminho, o triste. Estou no caminho bom, o não triste.


Abri uma página qualquer de Fernando Pessoa, quem sabe ele me diz algo?

Cancioneiro, pag 179:
 
“LENTA E QUIETA a sombra vasta
Cobre o que vejo menos já.
Pouco somos, pouco nos basta.
Que nos contente o pouco que há.
 
A noite, vindo como nada,
Lembra-me quem deixei de ser,
A curva anônima da estrada
Faz-me lembrar, faz-me esquecer,
Faz-me ter pena e ter de a ter.
 
Ó largos campos já cinzentos
Na noite, para além de mim,
Vou amanhã meus pensamentos
Enterrar onde estais assim.
Vou ter aí sossego e fim.
 
Poesia! Nada! A hora desce
Sem qualidade ou emoção.
Meu coração o que é que esquece?
Se é o que eu sinto que foi vão,
Por que me dói o coração?”