Cyber Soul
À distância de um braço, de um dedo, ou de um olhar, tão próximo estamos de nossas superficialidades que mal nos damos conta de nosso abarrotado vazio interior. Quanto mais vemos, mais não queremos olhar; quanto mais estendemos nossas mãos, mais não queremos tocar; quanto mais andamos, mais não queremos chegar.
Aonde nos levará tudo isso? À algum lugar lá fora onde a verdade desfila como o modelo mais bem pago por nossa ignorância? Falamos desse incômodo intelectual como se estivéssemos nos referindo à insubstância dos elementos; falamos da alma como se fosse um teclado situado na bancada de nossa obscura razão: Sento, logo digito.
Alma não é sensação digital mas por ser delével, toca-nos a consciência.
Meu mais potente processador racional, não processa suas inorgânicas sugestões que tão habilmente tentam inocular o oco dos pensamentos com a vacina do entendimento. Sem perceber, sou o anti-vírus da minha razão estranhamente desconhecida.
A realidade da vida está dentro do virtual. Um chip me programa para ser o aparente. Usuário de mim mesmo.
Bites percorrem meu sangue cibernético. Quanto mais me informo mais me deformo. A verdade é binária. Processo minhas idéias sem fazer idéia de que sou processado. Meu subconsciente está abarrotado de temporários; Preciso urgente de uma formatação. Minha sabedoria é feita de bugs sem margem de conserto.
Palavras ditas ditam o rumo traçado pelo significado. Disparam para além da significação alcançada, um novo significado semente.
Palavras são vasos; significado é o vazio do vaso. O vazio torna útil o vaso. Um vazo pode conter a plenitude de vários significados como se fossem um só. Serão os significados que escolhem as palavras que desejam preencher ou serão as palavras que determinam qual significado melhor preenchem suas medidas? Significados permanecem sem as palavras como vida após a morte?
Palavra é corpo; significado é alma. Quem cria uma palavra é também autor de seu significado?
Sento, logo digito.