Não se pode tentar enganar a opinião pública e ficar impune
Infelizmente nossos homens públicos, de um modo geral, não sabem lidar com a imprensa.
Salvo, é claro, as sempre honrosas exceções.
Diante das críticas, os políticos costumam reagir como políticos, ou seja, analisando não as criticas em si, mas quem as fez. Como se olhassem no espelho, reagem primeiramente procurando, em quem criticou, motivações pessoais ou partidárias. Esquecem-se do principal: da necessidade de responder as criticas com argumentos sólidos e sem rancor.
Eles não se lembram, talvez, que as criticas que vêm da imprensa podem ser poderosos auxiliares das suas administrações, porque é através delas que podem detectar eventuais erros que estão cometendo, muitas vezes sem querer. Ouvir apenas os ‘amigos do Rei’ não leva exatamente a nada!
Quando é que os dirigentes vão ‘descobrir’ que crítica é bom, saudável e necessário para o aprimoramento do regime democrático e para o bom funcionamento de suas instituições?
Quando vão entender que é necessário responder às criticas de maneira concreta, direta, sem subterfúgios e/ou meias-verdades?
Será que nunca vão entender que é só dessa forma que eles conseguem credibilidade e o respeito da população?
Tudo bem que alguns dirigentes tenham dificuldades de comunicação e não saiam por ai dando entrevistas ou coletivas de imprensa. Trata-se de uma característica de personalidade, ainda que não muito usual entre os políticos...Então, neste caso, cabe a seu pessoal técnico fazer esse papel. Para isso – e por isso – existem as assessorias de imprensa. Estas, por sua vez, são medidas pelo bom ou mau relacionamento que têm com a imprensa. Quando ela hostiliza ou é hostilizada pela mídia, claro que algo está errado...
Por outro lado, as assessorias de imprensa não podem funcionar bem se os dirigentes não entenderem que se exige deles ampla transparência em suas ações e atitudes.
“É pelo dedo que se conhece o gigante”, uma frase antiga mas muito verdadeira.
Importante ressaltar que a clareza que a imprensa cobra, não é obrigação apenas dos poderes executivos, mas também dos legislativos e dos judiciários. Ambos têm o dever de prestar contas à população. E não podem deixar dúvidas nas explicações que dão. Por exemplo: uma determinada obra que o dirigente quer executar, tem que ser claramente explicada à população porque ela é prioritária e esclarecer porque dispensou licitação e escolheu uma tecnologia cara e de utilidade discutível?
A democracia é o melhor regime que se conhece, exatamente porque divide o poder entre três pilares básicos e porque permite uma imprensa livre, vigilante e atuante, que cobra desses poderes explicações sobre o que seus dirigentes fazem.
Mas para que isso ocorra, é preciso também que a população tenha clareza de sua importância do processo. É só ela que ‘é’, os dirigentes apenas ‘estão’. Esclarecendo: os dirigentes ocupam seus cargos em caráter temporário, portanto não podem agir como se fossem dirigentes vitalícios; têm que ter a compreensão de que ‘estão’ no cargo por determinado período, após o qual serão substituídos (ou não) pela opinião pública, a única que ‘é’, pois permanecerá como tal ao longo dos tempos, independentemente de prazos de mandatos.
É essa opinião pública, portanto, que tem que ser objetivada pelos dirigentes públicos, porque ela é que delegou a eles um prazo para que trabalhassem para ela. Por essa razão é que o interesse público não pode ser prejudicado por questões menores, como por exemplo, atitudes com base em interesses político-partidários.
Cabe assim, aos homens públicos, justificar plenamente suas atitudes e prioridades. Sem meias-verdades. Sem tentar enganar a opinião pública dizendo que quem está pagando tal obra ou serviço é a iniciativa privada, quando isso não representa uma verdade absoluta, o que pode significar ‘a ponta de um iceberg’, onde o que aparece é apenas um pedaço do imenso gelo que está por baixo.
Hoje em dia os dirigentes precisam, cada vez mais, prestar contas de seus atos e isso se faz através da imprensa livre e não por meio de veículos próprios que servem mais à propaganda pessoal do administrador ou de sua administração, do que como meio de esclarecimento público.
È preciso ir mais longe! Competência, seriedade e transparência no trato da coisa pública é vital para a sobrevivência do modelo democrático!
Helio Rubens de Arruda e Miranda é coordenador do Polo Sorocaba da Aliança Internacional de Jornalistas