Manéuzinho Vai à Luta

E volto eu a falar do Manéuzinho! O nobre homem que se esconde do mundo nas areias de Ipanema e eu insisto em exibi-lo sem consultas prévias ou qualquer tipo de permissão. Confiando apenas na bondade e humildade do sujeito, me arvoro a contar uns causos que o tem como protagonista. Esse aqui ocorreu na Praia de Ipanema, naquele quiosque ao lado do Posto 10 (como se fosse possível acontecer algo com o Manéuzinho fora dali).

Era domingo de manhã, dia de praia e de muito chope no Rio de Janeiro. É preciso aqui, abrir um parêntesis: Manéuzinho não bebe... Chope! Bebe até um litro de cachaça por dia, mas chope, diz ele, não pode sequer sentir o cheiro. Tem nojo! E fala isso com uma nobreza e dignidade só vistas no Papa. Chope não bebe de jeito nenhum! E não consegue entender como as pessoas bebem tanto. Fecha parêntesis.

Voltando ao domingo de manhã. Manéuzinho já tinha iniciado os trabalhos, lá pela madrugada. Tinha acordado cedo naquele domingo.

Chega o nosso amigo Sérgio, cinegrafista da TV Globo e frequentador assíduo do quiosque. Portador de mais de 100 quilos de peso e de algo em torno de 185 centímetros de altura é, por isso, respeitosamente, chamado de Serjão.

Nessa manhã, o Serjão, após passar a madrugada toda nos estúdios trabalhando, mal podia andar, devido a uma lombalgia que o fez tomar até injeções. Pois bem, ao cumprimentá-lo, Manéuzinho, descuidadamente e sem maldade, deu-lhe um tapinha nas costas. Serjão soltou um palavrão enorme e foi às estrelas. Todos riram com a cena e explicaram o problema do Serjão pro Manéuzinho.

Agora, já ciente do problema do amigo, Manéuzinho não hesitou, esperou uns minutinhos e deu-lhe outro tapa, um pouquinho mais forte pra garantir o efeito. Novamente ouviu-se um estridente berro e um baú de palavrões e impropérios.

Outro parêntesis: como deveria estar se sentindo o Manéuzinho, subjugando um homenzarrão de quase dois metros, com alguns poucos tapinhas nas costas. Certamente era uma sensação que ele, Manéuzinho, com seus 45 quilos e 145 centímetros, nunca deve ter sentido antes. Fecha parêntesis.

Que delícia de sensação: Poder! Força! Com um sorriso desafiador, partiu para o terceiro tapa, mas antes que pudesse desferir o golpe, levou um “totózinho” no ouvido, dado com todo o cuidado pelo Serjão, para que não fosse taxado de covarde! Um tapinha, só pra encerrar a festa e terminar a graça! Com baixa potência e velocidade de cruzeiro!

Manéuzinho vidrou o olhar e, após alguns segundos, caiu.

Corre, corre! Todo o quiosque em torno da vítima, literalmente, tentando uma reanimação! Serjão preocupadíssimo esqueceu a dor e curvou-se sobre os joelhos, agarrou Manéuzinho pelos braços e o levantou do chão! Tapinhas foram dados no seu rosto e insistentes chamados foram feitos até que, por fim, ele abriu os olhos e conseguiu ficar de pé. Sozinho. Por cinco segundos. Caiu de novo e, dessa vez, não houve jeito.

Após certificarem-se de que o homem respirava, deixaram o corpo deitado na areia, à sombra de uma árvore. Que curasse a provável bebedeira da madrugada e o trauma da orelha (ou do cérebro) com a brisa do mar e com a sombra de um coqueiro.

Lá estava o nosso protagonista, o assunto da manhã, deitado em berço esplêndido. Muita coisa se ouvia: O que teria acontecido? Seria excesso de cachaça? Não seria melhor levá-lo a um hospital? Que nada é só “cansaço hepático”! Não seria bom jogar água nele? Ou ele dentro d’água? Aí é que ele morre!

Inicialmente preocupadas, as pessoas gradualmente começaram a relaxar e se distrair com o futebol na areia, as partidas de vôlei, as meninas bonitas e os amigos que chegavam à praia. Ninguém percebeu o Manéuzinho se levantar e iniciar (ou reiniciar) suas atividades rotineiras das manhãs de domingo: cana e cocos. Beber uma e abrir outros. Até que alguém reparou que o corpo havia ressuscitado e chamou a atenção dos demais.

Rapidamente cercado por uma pequena multidão, Manéuzinho não se lembrava de nada. Serjão? Lombalgia? Que é isso? Tapas? Desmaio? Não se lembrava de nada. Desconfiado, achou que estavam tirando sarro com ele ou, definitivamente, estavam todos loucos. Aqueles bebedores de chope! Estavam todos bêbados! Bem que ele não gostava dessa bebida gelada e espumante! Foi então que apareceu alguém, pediu silêncio a todos e se dispôs a explicar tudo direitinho.

O sujeito começou falando da noite mal dormida do Serjão (que a essa altura já tinha ido pra casa) e das suas dores nas costas. A tal lombalgia. Contou dos cumprimentos com tapinhas nas costas, dos gritos de dor do Serjão, dos sorrisos desafiadores dele Manéuzinho, do tapa que levou na orelha e, pra apimentar e fazer uma graça, mudou o final. Nele Manéuzinho desfere um potente gancho no queixo do amigo, que já não estava ali porque desmaiou e foi levado para o Hospital Miguel Couto, completamente desacordado!

Todos ficaram sérios esperando a reação do Manéuzinho. Ele, com um pouco de preocupação, e muito de heroísmo e glória, disse epicamente: “Isso é pra ele saber com quem está brincando!”.

Grande Manéuzinho!

Se um dia você ler essa crônica e não gostar, lembre-se de que, às vezes, os escritores mentem só pra alegrar seus leitores!

Você é o nosso herói!

Paulo Rego filho
Enviado por Paulo Rego filho em 18/08/2011
Reeditado em 18/08/2011
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