Prato cheio, prato executivo
Devo fazer uma retificação. Há algumas crônicas, eu falei de forma irônica sobre o estado dos ônibus em Brasília, insinuando que seriam da época da reabertura democrática. Enganei-me. O Governo do Distrito Federal já havia colocado em circulação alguns ônibus novos que representam o que há de mais moderno no segmento. Com direito a ar-condicionado e tudo. É verdade que não foram muitos os ônibus, e também é verdade que nem todas as pessoas fazem o trajeto em que eles foram colocados. Mas ninguém pode acusar o governador de omissão, afinal. Estão por aí, circulando, e dificilmente não encontro um deles andando no Setor Hoteleiro Sul. Quase sempre, vazios.
Falo dos ônibus executivos que o governo colocou para transportar pessoas do aeroporto até a Esplanada e os hotéis. É uma iniciativa que já existe em diversas outras capitais. Brasília será uma das sedes da Copa do Mundo e não podia ficar sem esse serviço. Agora, os turistas que chegarem até a cidade não precisarão depender mais dos taxistas do aeroporto – que, segundo relatos, estariam abusando da condição de monopolistas. Basta que paguem R$ 8 e viajarão confortavelmente até a região central de Brasília. Eis aí a melhoria mais significativa que o governador Agnelo fez até agora pelo transporte público da cidade – os passageiros aguardam ansiosos o prometido sistema integrado.
Acho que realmente precisávamos de um transporte executivo. Mas, particularmente, eu não usaria. Começa que não sou executivo e, mesmo que fosse, não estaria disposto a pagar mais para fazer um trajeto que posso fazer com o ônibus popular. Ele demora mais a passar, geralmente sai do Aeroporto lotado, mas o destino final continua o mesmo. O ônibus executivo parece se destinar a pessoas que não querem gastar demais com um táxi, mas também não se sentem confortáveis em andar num ônibus comum – ainda que os veículos da linha Aeroporto sejam menos piores do que o normal. Essas pessoas, provavelmente, ficarão muito satisfeitas com o novo serviço. São executivos.
Mas, aparentemente, não são muitos. Digo isso porque, até agora, nunca vi o ônibus executivo com mais de três pessoas dentro dele – número recorde que presenciei uma única vez. Por várias vezes, encontrei-o inclusive vazio. É certo que o vejo no Setor Hoteleiro, então é possível que já tenha descarregado todos os passageiros. Mas já o vi sair do próprio Aeroporto e o número de pessoas que levava não era maior. Pergunto ao governador se não seria possível poupar algum dinheiro e usar uma van para o transporte. Pergunto aos executivos se seria aceitável que pessoas de status andassem de van. E, finalmente, pergunto aos passageiros se acaso lembram da última viagem agradável de ônibus que fizeram – uma viagem sem quebras, sem solavancos, sem superlotação, sem demora. Em caso positivo, pergunto se não poderíamos convidar o governador para um simpático passeio na Rodoviária – que, afinal, também estará lá durante a Copa.
E talvez comamos nela um prato feito – já que não há pratos executivos.