PRECISA-SE DE SÓCIOS
Lembro-me bem dos meus joelhos ralados pelas numerosas quedas que sofri, quando, aos 08 anos, eu decidi que não mais iria andar a pé. A imagem que me vem à cabeça é cômica: uma menina franzina, cabelo desgrenhados (eu odiava penteá-los, porque eram (são) secos e a cabeça doía muito), de vestido ou shorts, com o pé direito enfiado através do quadro de uma bicicleta masculina, preso ao pedal; enquanto o outro pé empurrava a “bitela”, tentando sair do chão, subir no outro pedal e fazer a engenhoca funcionar.
Com o corpinho todo torto eu tentava, desesperadamente, equilibrar-me. A alegria era enorme quando, mesmo em ziguezague, eu avançava dez metros, antes de cair ao chão, tendo por cima um veículo pesado para a pouca idade. Assim, não chegava a chocar ou doer muito ver o sangue escorrendo das feridas, que, aliás, lembravam aquelas feitas nas pontas de nossos dedos, quando ralávamos coco.
Perdi as contas de quantas vezes essa imagem se repetiu, antes que eu adquirisse habilidade para pedalar esguiamente, após a façanha de, num gesto de “artista”, passar a perna direita sobre o quadro da bicicleta, sentar no selim, guiar em linha reta, soltando uma ou as duas mãos do guidom. Era uma glória poder me exibir para as crianças que estavam começando a aprender.
Muitos anos depois, eu já cursava Letras, quando resolvi que iria aprender a dirigir. Meu pai impôs uma condição: aulas de direção com profissionais! Então, o saudoso Oseías, da Autoescola Paraíso (bairro Vila Nova), com toda paciência do mundo, começou a me ensinar a guiar um fusquinha verde bandeira. O carro tinha um defeito: “morria” toda vez que eu freava. Para evitar esse dissabor, ele me ensinou a pisar na embreagem e acabei incorporando esse hábito até hoje.
Como dá para perceber, sou do tempo em que os ciclistas temiam os cachorros, que corriam atrás deles, e as pessoas morriam de medo de morrerem atropeladas. Bons tempos aqueles! Hoje tudo mudou muito: as bicicletas são um inferno para os motoristas e os pedestres idem. Sei que o ser humano tem preferência e respeito isso, mas refiro-me ao pessoal que, na maior desfaçatez, entra na frente dos carros em movimento, pondo em risco a vida de todos. Para entender melhor, experimenta cruzar a rua Capitão José Maria, vindo do Aviso, às 18horas. É enervante!
Além disso, a melhoria da economia brasileira tem permitido que quase todo mundo tenha um carro, ainda que ele venha acompanhado de uma “bíblia” (carnê para quitar as prestações a cada mês). Então, a frota brasileira é imensa e em Linhares, por exemplo, estacionar qualquer veículo no centro é um suplício e/ou um grande prejuízo. Dá vontade de parar e carregar o carro nas costas, gente! Deve ser melhor que tê-lo guinchado e passar pelos dissabores que passam aqueles que precisam liberá-los depois. Dizem que o negócio não fica barato, não. Eu é que não quero pagar para ver!
Diante disso, estou pensando seriamente em tirar brevê de piloto e colocar em ação uma “ideia da China”: montar um negócio de “helitaxis”. Para tal preciso de arrumar uns sócios com muito dinheiro para comprarmos helicópteros, contratarmos pilotos e montarmos uma escola de aviação só para bacanas. Também podemos oferecer parceria nos negócios aos donos de terrenos e de coberturas de prédios, se eles construírem heliportos.
Os riscos que corremos são dois: urubus, mas nada que espingardinhas de chumbo não resolvam, e o governo resolver incentivar a produção de helicópteros a preços populares. Aí, danou-se! Teremos de mudar de planeta e de negócio. Vamos ter de pensar em... espaçonaves, talvez.
Confesso que cheguei a pensar em convidar o Carlos Slim (Telecomunicações - América Movil. Fortuna de US$ 74 bilhões), o Bill Gates (Computação – Microsoft, dono de US$ 56 bilhões) e o Eike Batista (Mineração e petróleo – EBX, que tem a “mixaria” de US$ 30 bilhões), mas temo que eles queiram me dar uma “pernada” depois. Então, anuncio minhas preferências linharenses: Anthenor Pianna e Jair Marim, por quem nutro profundo carinho e admiração.
Topam? Com o que eu entro? Minha cabeça, queridos, minha cabeça!