A aventureira
Já quase morta, Jogou-se as linhas. Ao redor não havia nada, além de palavras. Não tinha sentimentos, mas uma coleção de letras. Tudo não passava de histórias. Rios, céus, oceanos eram elementos da poesia. Bebeu. Já não agüentava a sede, bebeu um conjunto de algoritmos que iam violentamente corpo abaixo.
Estava cansada, há dias não parava para descansar. Olhou para cima, de lá desciam inspirações quentes. Arrastou-se para debaixo de uma árvore onde inspirações frias a relaxaram e esfriaram sua mente. Fechou os olhos, não tinha coragem de continuar, mas precisava levantar, abriu os olhos depois de minutos. Ganhou animo ao avistar uma fruta. Apanhou-a e depois de comê-la, deixou cair alguns adjetivos. Ficou pensativa. Olhou para o chão e viu a imensidão de palavras esquecidas ali. Mas não podia carregá-las, já havia muitas com ela, além do mais, não queria deixar buracos por lá.
Criticou severamente suas fraquezas. Cadê a força? Gastara toda no passado para arrancar o único coração, qual entregara a um menino de quatorze anos. Este nunca mais devolveu. Vez ou outra, ela fingia que ele batia, acreditava na mentira, era o único jeito de continuar viva.
Sentiu-se forte por ainda conseguir continuar. Exaltou suas qualidades, ignorou o peito ainda aberto, estampou o sangue com algumas frases e orações. Na língua havia diversas figuras. Os passos tinham assonância, sua esperança tinha hipérboles.
Ela gostava de toda aquela literatura espalhada no mundo. Das pessoas, das coisas e da curiosidade, dos traços delicados que tudo fazia no papel. Ela se sentia uma personagem num livro, se lia constantemente, gargalhava, sorria, chorava de saudades.
Agora, no entanto, assumiria a face humana e iria dormir. Ia se desligar de tudo por um tempo, assim que acordasse voltaria a deus-dará.
Tanto nas estrofes como em todos os parágrafos, não sabia o que ia encontrar, mas ainda sim tinha o desejo de continuar procurando.