AMOR NUM CAMPO DE ASPARGOS
Em uma área de húmus, a semente de um aspargo é plantada e não tarda a germinar. Surgem grandiosos exemplares da planta, finos, fálicos e esbranquiçados. A lilopsida não encontra dificuldades para prosperar em um ambiente límpido, estável, livre de parasitas e altamente nutritivo. O aspargus officinalis, como é cientificamente conhecido, cresce cada vez mais saudável e promissor. Eis que o seu fazendeiro, a quem chamaremos de Teodoro, ao ver tal obra da natureza, comenta consigo mesmo:
“Poderia algum arroubo do destino desmantelar a minha longitudinal mina de ouro?”
Não, ele próprio conclui. Cada vez mais, seus campos de aspargos germinam altaneiramente. Nada parece ser capaz de anular a química mantida por ele com seus vegetais. Ele se recorda de seu primeiro aspargo com afeto. Seu pai plantara, em uma já extinta horta familiar, no remoto Natal de 1970. O fazendeiro, hoje um grande latifundiário, traz no coração as belas palavras de seu pai:
“Comeremos o peru com aspargos na noite de Natal!”
E assim foi. Não apenas no Natal, como no Ano-Novo. Em vários Natais e Anos-Novos desde então. E quantas Páscoas, também... Tudo alimentado pelo aspargo. Os melhores momentos da vida de Teodoro foram regados pela saborosa lilopsida. Seus dias na escola? Aspargos na lancheira. A primeira formatura? Aspargos no jantar. A primeira vez? Aspargos para dar energia. O primeiro emprego? Aspargos na hora do almoço. As primeiras demissão e desilusão amorosa? Aspargos para afogar as mágoas, claro!
Hoje, Teodoro é um importante fazendeiro. Dono de ricos latifúndios, ele é um dos grandes nomes do primeiro setor e conta com inúmeros funcionários. É dono de inúmeras cabeças de gado, aves, suínos, caprinos, ovinos, pomares. É acionista de grandes empresas. Enfim, é sinônimo de luxo na zona rural.
Entre seus empreendimentos rurais, as fazendas de Teodoro produzem soja, café, sorgo, milho, cana, milho, batata, laranja, entre muitos outros. Mas não aspargos. Sim, não há aspargos em suas produções! Irônico, não?
Nem tanto. Na fazenda que um dia foi de seus pais, muito semelhante a uma chácara, remanesce um pequeno canteiro de aspargos. “É de estimação”, diz Teodoro. Por vezes, ele extrai alguns para acompanhar as refeições de sua família. “É mesmo irônico”, concorda Teodoro. “Meus negócios são tão variados, acumulei tantos patrimônios... Contudo, descobri mais tarde que nada substituirá o significado dos aspargos em minha vida”.