De como eu continuo a ser cafajeste.
Sei de antemão que muitos me julgarão, porque adoram julgar à nós, cafajestes. Assumo, como assumem aqueles gays desencanados, que gritam e agem como gays, assumo que gosto de mulheres, de tê-las, subjulgá-las (na cópula apenas) e aproveito para revelar que meu critério tem sido ultimamente, digamos, demasiadamente elástico.
Não me apraz, às vezes, ser exigente na escolha, tem noites que aspiro a quantidade, aumentar meu rol de fêmeas saboreadas e etiquetadas com meu sêmen caudaloso e furioso.
Foi assim me sentindo que peguei (tive que pegar) Mônica, uma ascensorista sorridente e burra que se ofereceu às escâncaras, bebendo cerveja e sorrindo, um sorriso feio e sem graça, mas um homem insaciável e narcisista como eu, consegue enxergar um matiz agradável nessa feiúra, exatamente porque tal "matiz agradável" era aflorado para chamar minha atenção, parecer atraente à meu sexo.
Depois que peguei Mônica, aconteceu-me um terrível arrependimento, arrazoei que no estágio que eu me encontro não é de bom tom despencar meu índice de qualidade de fêmeas abatidas com alguém como Mônica, nem um par de seios fartos tinha para oferecer-me!
Chamei-a então e disse-lhes estas palavras:
-Moniquinha, minha flor, tu não sabes de nada...
-Aí, o quê?? respondeu ela com seu ar de menina Down.
-O Rodolfo é apaixonado por ti! não fala noutra mulher, somente em ti...
-Então é por isso que fica avermelhado quando estamos à sós no elevador.
-Exato, acho que quer desposar-te, finalizei com voz séria.
Devo esclarecer que Rodolfo tem verdadeiro asco por Mônica, expresso entre risadas em diversas oportunidades nas rodas de amigos cervejeiros. Agi assim apenas por peraltice, para mover a roda da paixão, estou convencido que fiz um bem à Moniquinha, dei-lhe uma oportunidade de usar seu charme tosco e assim sentir-se desejada, uma mulher enfim...
Quanto à Rodolfo, seu nojo por Mônica cresce a cada subida e descida do elevador, já que ela sorri aquele sorriso feio para ele, por entre os espelhos que forram o ascensor, depois me telefona no celular me xingando por uma brincadeira tão sutil...
Homem de Preto - cafajeste assumido, vai à igreja e quando vê um mendigo prontamente lança-lhe à mão uma moedinha, escreve neste espaço aos domingos.