Poder Avassalador
O poder da buça é avassalador. Alivia a dor. A despeito de qualquer outra orientação sexual que se prefira. E que imaginamos que seja uma questão pessoal. Talvez seja muito mais cultural. Além de física, é claro.
Em todo o caso, a despeito da preferência de homens por outros homens, por exemplo, o que parece ser cada vez mais admitido, ainda sob esse ponto de vista nada continua tão surpreendentemente poderoso como o poder da buça. Que ela não nos ouça. Mas como soluça!
Ela é a responsável pela lamentável posição de inferioridade a que foram submetidas as mulheres (muitas ainda o são). Com repercussão inclusive sobre elas mesmas. Há senhoras que consideram certos termos indecentes e pejorativos.
Mas não se lembram de que já foi considerado uma indecência depararmo-nos com uma mulher fumando. Ou ao volante de um ônibus. Ou deixando de se dedicar às “prendas do lar”. Ou traindo o marido. Sendo mais admissível que ele o fizesse. Não pensaram também na indecência de se impedir que as mulheres votassem.
Tudo porque elas trazem escondida com elas a caixa do prazer. A “squeeze box”, como a gente escutava com o The Who. (Aqui vale a pena citar Sigmund Freud, que foi buscar no componente sexual as respostas para muitas, senão todas, das aflições humanas. Apesar das ferrenhas oposições de outros estudiosos no assunto).
Imagine que uma caixa pode inclusive acomodar uma outra. Ao passo que duas espadas, de tamanhos iguais ou diferentes, podem, quando muito, confrontarem-se.
Por que as mulheres tinham que permanecer virgens? Pelo menos até o matrimônio? Porque sabia-se de antemão da possibilidade de prazer que elas poderiam representar. E tratava-se de um prazer muito grande para ser desfrutado por qualquer um (até por elas mesmas) à hora que quisesse. Era preciso classificar os tipos de prazer. Ainda que o Criador todo poderoso tivesse dotado congenitamente os indivíduos dessa possibilidade de prazer. O estabelecimento de condições para que se desfrute desse tipo de prazer é coisa dos homens. Não do seu Criador.
Partindo-se da abominável idéia de que as mulheres não deveriam servir para outra coisa que não fosse a produção do prazer, essa coisa deveria ser concedida sob condições. Chegou-se inclusive a imaginar que uma mulher pudesse permanecer virgem após a concepção do filho. Claro que Jesus Cristo, do alto da sua clarividência, jamais concordaria (ou concorda) com isso. Como não pode concordar com o que os homens (e seus múltiplos tipos de templos e igrejas) vêm realizando depois que ele se foi.
Sem considerarmos o fato de que essa caixa é muitas vezes disputada a ferro é fogo, o imenso poder da buça eleva-a à condição da mais completa indústria de que se tem notícia. Dotada de uma capacidade de produção inesgotável ou ininterrupta. De seres. E ainda com a característica peculiar da perenidade, não encontrada em outra caixa qualquer. Essa indústria só deixaria de existir com o desaparecimento do ser humano! Dali saíram (como vão sair) todas as raças, com os seus diversos tipos sanguíneos, que o homem se apressou em classificar.
Que poder a esse poderia ser comparado? Se é ele essencialmente o poder da vida?
A vida seria uma parede sem janelas se não houvesse seres que a animassem. Uma parede só tem vida porque tem janelas. São os seres animados que garantem a existência da vida. Mesmo os micro-seres.