ENCONTROS E DESENCONTROS

O cérebro humano, esse mecanismo de incrível complexidade, que encerra em tão pequeno espaço uma fabulosa quantidade de informações, tem milhões de arquivos muito bem distribuidos e operantes.
Tenho pra mim, que o da memória seja brilhantemente iluminado, com portas que deslizam silenciosamente e cujos neurônios trabalham sempre febrilmente.
Mas dentro desse arquivo, há um escaninho que anda meio desleixado e por isso muitas vezes nos prega terríveis peças; é o da memória de nomes próprios(antropônimos, para os perfeccionistas)!
A memória visual, essa é perfeita. Você, sem esforço, poderá descrever uma paisagem que tenha visto há anos atrás, com detalhes de cor, sons e cheiros. Ao vislumbrar um rosto na multidão, você, imediatamente, lembrará que lhe é familiar e, até mesmo, em que lugar o encontrou...mas e os nomes? Bem, aí a coisa pode ficar preta mesmo!

Para contar o resto da estória, vou vestir minha capa de invisibilidade e ficar assistindo, bem de perto, a mais um drama da vida.

Episódio 1 - Os personagens são conhecidos, mas um deles esqueceu o nome do outro.

Dois apressados em sentido contrário e em rota de colisão, que acaba realmente acontecendo.
–Uh, desculpe, senhor!
- Mas, que surpresa! Que mundo pequeno este, hein? Macacos me mordam se não é o amigoTimbauba! E aí, cara, como vai?
- Pois é..."cara", a gente acaba se esbarrando nas esquinas da vida "como é que ele se chama mesmo?"
- Você acredita que ontem mesmo pensei em você, nos velhos tempos de faculdade. Que saudade Timbauba!
- "bem, já é um começo - faculdade", mas e o danado do nome?" - É, sim,..."amigo", e a gente nem sabia como era bom!

Mas de repente, Timbauba para, pensa bem e uma luz se acende "já sei como fazer pra descobrir o nome desse cara".

- Pois é..."companheiro", e por falar nisso, como era mesmo que a turma te chamava ?
- Rosalvo, irmão, Rosalvo.
- Pô, ROSALVO, o nome eu sei. O apelido é que eu não lembrava! "ufa, escapei por pouco"

Episódio 2 - os personagens são conhecidos, mas nenhum dos dois lembra do nome do outro.

Defrontam-se nessas esquinas da vida, num belo dia de sol e de ruas apinhadas.

- Caramba, mas logo quem eu vou encontrar por estas plagas! "como é mesmo o nome desse sujeito".
- É pra você ver..."meu caro". Mesmo sem procurar a gente acha, não é ? "como é mesmo que ele se chama?"
- Tava lembrando dia desses das nossas brincadeiras de moleque, lá em Ricardo de Albuquerque... "meu chapa".
"tá melhorando - Ricardo de Albuquerque" - Coisa que não volta mais..."meu amigo" . Agora a garotada tá, como eles dizem, noutra.
- Olha..."querido", a Zuleima, minha irmã, também lembrou de você com saudade. Ela gostava de você, seu sortudo e eu até olhava com bons olhos aquele namorico.
E a conversa vai se arrastando, cada vez mais difícil com a alarmante falta de substantivos e adjetivos para disfarçar a carência.
Mas, quando a coisa estava próxima do ponto de ruptura, um maravilhoso serafim se aproxima dos dois e, sem querer, salva a pátria. Seu nome: Sigefredo.

- Mas não é possível, é alegria demais para este pobre mortal encontrar duas peças raras sob este maravilhoso sol (advogado, com certeza). Então, temos aquí nada mais, nada menos, do que os mais do que queridos Dermeval e Azambuja. E, então, como vamos?

-"DER-ME-VAL - vê se grava o nome, cretino"
-"A-ZAM-BU-JA" - vê se grava o nome, cretino"

Daí pra frente a conversa flui, tranquila e acaba entre abraços e risos. E cada um segue para seu lado.

SIGEFREDO - "pra que fui parar e ficar de papo com aqueles pulhas? Tô em cima da hora da minha audiência"
DERMEVAL - "cara, até que a Zuleima dava um amasso legal!"
AZAMBUJA - " tudo bem, afinal não foi assim tão ruim, mas - como é mesmo o nome daquele advogado?"!.





paulo rego
Enviado por paulo rego em 16/08/2011
Reeditado em 20/09/2011
Código do texto: T3163546