SEU DITO DIZ CADA COISA!
Seu Dito e Alaíde moram aqui perto, volta e meia encontramos o casal na rua. Às vezes de bicicleta, com várias sacolas penduradas no guidom, ele pedalando e ela aboletada no quadro. Nada demais... se fossem jovens. Só que seu Dito, grandalhão, já passou dos oitenta e Alaíde bem gordinha está pelos sessenta e tantos. A maior distração dela é pegar o ônibus ou uma carona e ir ao hospital, onde diz que passa horas e horas fazendo exames. Quando começa a desfiar suas doenças, não acaba mais. Sofre de pressão alta, tem não sei o que no coração, problemas na coluna, colesterol alto, precisa operar isso e aquilo... E vai contando tudo nos mínimos detalhes. Mas quem teve um piripaque outro dia foi seu Dito e quem precisou cuidar dele? Dona Alaíde, claro. Num vapt-vupt ela sarou de quase tudo, até emagreceu. Entre eles, os dois se tratam assim: é dona Alaíde pra cá, seu Dito pra lá. A conversa fica muito engraçada. Quando perguntam a raça do seu cachorrão preto, ele diz que é Pantera e logo acrescenta na maior ingenuidade, pantera cor-de-rosa... não é dona Alaíde?
Todo final de tarde ele põe uma cadeira na calçada e fica apreciando o movimento: alguns poucos carros que passam e o pessoal da vizinhança fazendo caminhada. Ontem meu marido passou por ali e perguntou da sua saúde. Bem melhor, meu filho, bem melhor. Até já podia capinar, mas ainda tenho muitas dores aqui nesse mardito nervo asiático...
Logo depois de um daqueles horríveis acidentes de avião, não se falava em outra coisa e seu Dito, consternado, dizia a toda hora: que mortandela, meu Deus, que mortandela!