Conto Interrompido

Apaixonados, nos abraçamos e nos beijamos como na primeira vez.

Acaricio o seu rosto e vejo a mulher com que eu me casei há doze anos, e percebo que, a cada ano, cresce mais em nosso peito, aquele amor maduro e o respeito de quem se aceita companheiro em caminhada nessa terra; e também junto, o desejo sexual que, bem alimentado, continua presente na vida de qualquer casal, mesmo depois de tanto tempo de relacionamento.

Ela me envolve, eu a conduzo, e quando estamos um no outro, amor fluindo na pele na dança alquímica da união dos corpos; no momento em que estamos para gritar: somos um! Somos mesmo é interrompidos por um choro:

- Buáaaaaa!!!! Buáaaaaa!!!! - o bebê chora.

Auri dá risada e sussurra um "já volto", eu fico olhando para o teto e pensando em tudo que vem no pacote quando você se torna pai. Mas mudo de pensamento, e procuro não pensar muito sobre isso, nem filosofar sobre pais e filhos, ainda mais quando Auri volta para o quarto, bonita e sedutora e diz falando "onde paramos?"

Continuamos!

Sinto o perfume da sua pele, ela sussurra que sempre será minha. A dança recomeça, retomada no carinho eterno que nutrimos um pelo outro. Ela, gentilmente, dessa vez, é quem conduz, e sigo-a até o infinito, e quando estamos prestes a alcançar novamente a tão esperada luz:

- Buáaaaaa!!!! Buáaaaaa!!!! - Chora o bebê.

Sou eu, que dessa vez levanta, Auri fica na cama dando gargalhadas. Vou até o berço e vejo aquela intrusa, roubando meu precioso tempo com a minha esposa, e percebo que é tarde demais, estou também por ela apaixonado. Daí, a seguro nos braços, o choro pausa, e ela ensaia um sorriso. Com os olhos bem abertos e cara de muleka querendo brincar, percebo que não tenho outra escolha e me rendo!

Brincamos um pouco, ela ri, canto uma canção de ninar, ela nina, nina e vai dormir. Daí, volto para a cama, e agora quem dorme é a Auri.

Volto para a sala, ligo a TV e todo mundo me diz : "Feliz Dia dos Pais!"; e me dou conta que chegou o fim dessa crônica!