O MUNDO DO MEDO
O medo do mundo... O mundo do medo...
O medo nas ruas, estampado em semblantes apressados, no vermelho do semáforo que detém carros e vidas passageiras... O medo nas casas, pintado em grades coloridas que escondem o verdadeiro tom do pavor – presídios urbanos com liberdade condicional...
O medo no peito, aprisionando emoções, sufocando paixões, reprimindo desejos, anseios perdidos nos longos e tristes corredores da penitenciaria ambulante... O medo do sonho, transformado em pesadelo vorazes que corroem a alma, penando em vida, fantasmas do passado, presentes em grossas correntes que se arrastam por noites sem fim na escuridão dos dias...
O medo do vôo, do vou, asas atrofiadas no receio do novo, de novo pássaro restrito aos limites de sua gaiola voluntária... O medo do extremo, do outro lado da ponte, da fonte, espelho cristalino do EU, mergulho na profundidade do SER, não ser, eis a questão, quando todos gostariam que fosse...
O medo da fala, que cala engolida em seco, vertendo nos cantos dos olhos, sob o peso de culpas inexistentes... O medo do movimento, do momento do próximo passo, ao compasso de angustiante incerteza marcada em caminhos anteriores, temores em placas de sinalização...
Um dia, acontecerá uma rebelião! Romper-se-ão grades e correntes, antigos conflitos serão queimados, o velho armário será esvaziado, fantasmas serão sepultados e todos estaremos livres do pior medo: o medo de SER! E não haverá mais ninguém nos longos e frios corredores, condenado à limitação perpétua...