Os dias são como pérolas que rolam num prato
Natal novamente. Quarta feira, de novo. Que novidade há nos dias que passam? Escorrem como pérolas rolando num prato? São todos iguais, ou muito parecidos, não há mais sensações, emoções fortes que possam fazer de um reles dia algo inesquecível?
Estamos condicionados a procurar por emoções fortes. Essa é a razão pela qual a indústria do entretenimento é tão poderosa. Hollywood adora uma novidade que possa movimentar as bilheterias. A televisão está, permanentemente, em busca de notícias frescas que possam quebrar a monotonia. As igrejas ameaçam com castigos inimagináveis e o apocalipse é um agora permanente.
Mas, para todos nós, que felizmente continuamos à margem dos desastres, vilipêndios, assaltos, seqüestros e guerras que compõem o cotidiano da mídia, nossas vidinhas escorrem. Como pérolas num prato.
Como estamos longe daquilo que seria o grande desfrute da vida. Observar a mudança das estações, como os orientais faziam, e redigir um hai kai. Ou ser um participante de uma festa comunal, a festa das primícias, por exemplo. Ou deslumbrar-se com um passeio pelo campo, ser parte das “pequenas alegrias” recomendadas por Hermann Hesse. Nada disso constitui novidade, nem é cultivado hoje em dia.
Vivemos em uma sociedade intoxicada. Notícias, espetáculos, tóxicos propriamente ditos, somos intoxicados pelas emoções intensas, que como um tempero forte anestesia o nosso paladar.
E, se nada acontece, instala-se o tédio.
A nossa vida passa, como pérolas correndo num prato, todos redondos e iguais. E não sabemos apreciar o espetáculo simples do desfilar das pérolas.