Porque escrevo
Se me perguntarem por que escrevo, direi que é porque preciso. Simplesmente.
Se uma ideia é gerada em minha mente e não aborta , quando se cumpre o prazo de sua gestação, ela tem que vir para fora, como a criança que, ao chegar a hora certa, precisa nascer.
Tal como a criança, quando a ideia precisa vir ao mundo, ganhar vida própria, não há como evitar. Como a criança, ela não escolhe hora nem lugar para vir à luz, nem precisa da ajuda de estranhos, somente de quem a gerou.
Mas, para se desenvolver, a ideia precisa de nutrientes, que são as ideias inspiradas por outros escritores, pelos acontecimentos do cotidiano, por nossas emoções, pelos frutos de nossos relacionamentos e, logicamente, pelas musas inspiradoras.
Há ideias que brotam, se desenvolvem e desabrocham com facilidade, como nas gestações sem complicações. Mas há aquelas que, no momento da eclosão incomodam, machucam, como nos partos difíceis, demorados e muito sofridos.
Mas, como as crianças, cada ideia que geramos, nutrimos e colocamos no mundo são criaturas únicas, especiais. Aprendemos muito com elas, como aprendemos também com os filhos. Talvez, por isso, os escritores digam que cada livro editado é como o nascimento de um filho. Criamos filhos para o mundo. Escrevemos para o mundo.
Mesmo que não cheguemos a publicar nada, o ato de escrever nunca é solitário: sempre concebemos alguém lendo e criticando nosso texto, sempre o imaginamos em alguma página de livro, em alguma estante de biblioteca, nas mãos de algum leitor ou de algum crítico. Assim como acontece com os filhos, que podem ser gênios e ganhar renome internacional, ou, então, podem não ser tão brilhantes e não sair das proximidades de casa, há as obras que se tornam famosas, ganham milhares de edições, e há as que permanecem anônimas, ofuscadas por outras, mais brilhantes. Há os filhos mais tímidos e os mais espontâneos e atirados, os sóbrios e os mundanos, os eruditos e os populares.
Mas, sejam eles famosos ou anônimos, tímidos ou abusados, brilhantes ou comuns, serão sempre filhos.
O que se escreve é irreversível, como a palavra pronunciada, como o ato da maternidade, como a criação divina. Escrever é um destino.