Nada como uma prece no intuito de buscar respostas, eu sempre converso com Deus e de certo modo, sinto como se ele me ouvisse e me trouxesse respostas… Respostas essas que no fundo vivem em mim e que florescem sempre nesses meus diálogos pessoais.

-Sabe pai, no fundo eu nunca soube viver de momentos, eu sempre tento eternizar tudo e ao que parece, tudo o que eu tento eternizar, torna-se breve.

-Calma minha filha, cada momento fora criado justamente para que passe e nunca se eternize, vocês é que se apegam a tudo, vocês é que ainda não aprenderam que todo momento passa, mesmo aqueles que vocês não querem que passe, não há como segurar o tempo, nem eu mesmo posso fazê-lo… Eu irei sempre lhes presentear com bons momentos e se souberem viver cada um deles sem apego nenhum, viverão então tempo o bastante para ser felizes, sem dar chance a eles de se tornarem momentos ruins.


-É Pai, eu e esse meu vício de eternidade, que somado a esse meu vício de querer transformar tudo em amor, acaba me fazendo viver um mundo de contos de fadas e fantasias sem finais felizes. A real é que como eu já lhe falei, tudo o que eu tento eternizar, torna-se breve e tudo o que eu tento transformar em amor, torna-se dor, mas sabe pai, acho fantasiar é inevitável e o amor tem sido pra mim como aquela minha primeira boneca de pano que me fazia viver o que eu não conseguia enxergar, o que eu não conseguia viver, sentir, tocar e sabe, estou começando a achar que é por isso que o Senhor nos deu o dom de imaginar, de criar e fantasiar… O Senhor não nos deu a terra, mas nos deu o dom de pintar suas cores, escrever suas evoluções e assim eu sempre fiz, sempre pintei o amor, escrevi sobre o amor… Grande amor, pequeno amor, estou sempre tentando medir o infinito… Amor direito, amor errado, estou sempre tentando impor limites ao que é livre… Amor preto, amor branco, amor vermelho, estou sempre querendo desvendar as cores do arco íris… “Amor”… apenas uma palavra que inventamos para nomear o que não sabemos descrever e uma forma de nos sentirmos um pouquinho como o Senhor. Sabe Pai, já reparou como esse amor que as pessoas inventaram pra si é tão cheio de promessas? Vejo tanta gente criar enredos e histórias onde se apegam cegamente, mas que nunca chega onde elas realmente querem, um eterno meio sem fim, mas vai tentar por isso na cabeça das pessoas… Sabe pai, se nós acreditássemos no senhor como acreditamos nesse falso amor, acho que aí sim de alguma forma, sentiríamos o que é de fato ser amados…
Sabe pai, eu desisti de tentar mostrar isso a elas, no fundo elas preferem viver suas fantasias a ter que lidar com a verdade, elas mentem para si mesmas e fazem da mentira uma religião a ser seguida, onde a seguem fielmente não aceitando serem contrariadas e vivem nesse acumulo de promessas e planos fazios e não importa o quanto eu grite isso pra elas, elas preferem não querer ouvir... sabe pai, acho que a Promessa era uma menina cheia de sonhos e expectativas, até que ela cresceu e se tornou uma mulher cheia de falsas lembranças... 
Pai?... 

- Estou lhe ouvindo minha filha, e sabe, esse é o maior dom que eu lhes dei... O de cada um ter a liberdade de buscar os seus próprios caminhos e de cada um descobrir as suas próprias verdades... Não existe verdade absoluta minha filha, não existe amor certo ou amor errado, aquele que morre acreditando mesmo que em uma mentira, morre feliz, pois acreditar é sempre uma sensação doce... Amargo é aquele que não acredita em nada.

-É pai, o senhor tem razão... me diz, tem espaço para uma pessoa amarga por aí? Porque ao que parece, eu não sei ser doce.

-Você é doce minha filha, amargo é somente o seu momento e se você prestou atenção nesse diálogo, saberá que ele irá passar.


Rascunho sem edição

(Felipe Milianos)

(Imagem via Tumblr) 


Felipe (Don) Milianos
Enviado por Felipe (Don) Milianos em 14/08/2011
Reeditado em 14/08/2011
Código do texto: T3159570
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