O masculino que há em mim

O masculino que há em mim é doce, tem voz melódica e timbre grave.

Possui mãos que falam, cujo toque é forte, abarca, e anuncia “vem comigo, confia, estou aqui”.

O masculino que há em mim é bem humorado, sorri alto, gargalha, gargalha, mas gargalha mesmo, e conduz o sorriso à categoria que lhe é de direito, o aconchego.

O masculino que há em mim tem nervos de aço, mas passeia cambaleante na poesia de Noel, Cartola e tantos outros que cantam versos apaixonados para o eu feminino.

Este ser que carrego e que se opõe a mim caminha leve entre as minhas angústias, dúvidas e mudanças; sem tropeços, rebate a agressividade feminina, que explode na busca por liberdade e pela separação dos opostos. Tolice, como se pudéssemos separar o côncavo e o convexo sem que um não se tornasse o vazio do outro.

O masculino que há em mim não é agressivo, é imponente. Não é orgulhoso, pelo contrário, faz-me senhora das minhas decisões. Não concordamos sempre, afinal somos opostos. Mas sempre convergimos em direção à paz.

O masculino que há em mim tem mais de setenta anos, mas já teve 5, 17, 25... e 37, quando tornei-me semente e passamos a ser um só. O masculino que há em mim modela o meu pensar, e desde sempre me ajuda a ser plena - enquanto menina, amparava, ensinava, cuidava; e enquanto mulher aconselha-me, acompanha-me, admira-me.

Sou parte dele e ele parte de mim. Opostos inseparáveis, em tudo que faço e onde quer que eu esteja!

Ao meu pai: o masculino que há em mim ao longo dos meus felizes 34 anos de vida e dos muitos que ainda virão.