“AINDA FALAREI DESTAS FLORES...”, NÃO FOI O QUE PROMETI?
Ainda esta semana eu vi quando a primeira flor da tulipa africana despontou de um galho bem de frente a minha janela. Tenho estado mais observadora, por isso seu desabrochar não me passou despercebido. Ontem novamente cheguei à janela e pude ver que várias delas já despontavam ingênuas com suas corolas feito cones flamejantes.
Fiquei feliz ao perceber que desta vez elas já não me são estanhas. Desde a última florada tenho observado suas transformações. Quantas vezes olhei desta janela e não as via. Até que um dia... Não sei realmente explicar... Só sei que as vi e me apaixonei por elas. Mas nem ao menos sabia o nome de tão bela flor. Pesquisei, confesso. E só então aprendi alguma coisa sobre elas.
Naquele dia era um domingo de chuva fina. Na verdade uma bela tarde de domingo de chuva. Eu olhava da janela embevecida com tão bela paisagem. Gosto da chuva, embora traga um pouco de melancolia. Na verdade tem dias que penso eu mesma ser um pouco melancólica. Daí essa paixão incontida por todas as coisas que convidam à reclusão, meditação...
Mas naquele mesmo dia não me contive e transformei em crônica o belo pé de tulipa africana. Não nego que o momento era propício: domingo, chuva, fim de tarde... E um olhar que se perdia além de seus limites. Desde então aquelas flores se tornaram alvo de minha visão em todas as tardes que eu me debruçava nessa janela. Depois assisti a todas as flores caírem sob a grama do jardim. Assisti quando todas as folhas também caíram deixando desnudos os galhos já envelhecidos. Foi-se o inverno. Veio a primavera e com ela as primeiras chuvas. Nasceram novas folhas. E de repente a primeira flor.
Eu fui a primeira a vê-la certamente e a única a observar todas as suas transformações. Agora registrei bem seu desabrochar. Dezembro. Sim a primeira flor nasceu em dezembro, já no final da primavera. Uma semana se passou desde então e já posso ver várias delas desabrochando ingênuas entre as folhas verdes. Mais uma vez com certeza se sustentarão até o início do inverno. Ou outono. Não me lembro bem da outra vez e quando a última flor se desprendeu. Agora vou observar melhor. Mas é certo que as verei novamente se desprenderem uma a uma quais as almas que se desprendem do corpo sem momento certo. Na verdade também disse isso naquele dia. Alguma vez já disse que sou repetitiva demais? Pois eu sou. Não nego. Talvez seja falta de criatividade, não sei ao certo. Não seria esse o motivo que me fez falar novamente da tulipa africana?
Muitas coisas mudaram desde a última vez que falei destas flores. Na verdade havia prometido que falaria delas antes que caíssem todas na grama do jardim. Mas não falei. Envolvi-me com tantas coisas. Coisas do cotidiano e imprevistos que atravessaram meus caminhos. Até que quando dezembro chegou eu vi a primeira flor desabrochar em um desses olhares que sempre lanço pela minha janela em um fim de tarde qualquer. Alguma vez também já disse que gosto de olhar dessa janela ao final da tarde? Sim, olho sempre daqui... A paisagem é linda apesar de ser apenas um amontoado de casas e ruas. Mas o olhar não tem direções e posso olhar o céu infinito e garanto que posso ver coisas que outros jamais perceberam. A lua. As estrelas pontilhando o manto negro da noite. E como não podia deixar de ver: o belo pé de tulipa africana.
Ainda agora me lembrei: daqui da janela inspirei-me na beleza austera da avenida que desce, senti toda a paz e quem sabe também o cansaço de um dia após as dezessete horas. Não preciso nem dizer que também fiz uma crônica desses momentos, além de registrar o mistério do luar e me lembrar saudosa dos dias chuvosos de tantos anos atrás. E ainda bastou um só olhar para me envolver na beleza das flores que vejo daqui. Por esse tempo já estava envolvida em memórias e saudades além das coisas que me rodeavam e às quais eu olhava com ares de poeta. Se não fosse assim as palavras jamais nasceriam, embora hoje algum pedaço de mim tenha adormecido, não vou negar. As palavras andam ociosas. Logo eu que havia prometido falar dos retratos da vida e quem sabe o silêncio do cotidiano, me vejo de repente falando novamente da tulipa africana.
Que explicação daria a mim mesmo diante desse fato? Contudo, sei que não passou a oportunidade. Quem conhece de certos sabores jamais se esquece. Eu conheci o sabor das palavras e mesmo que elas adormeçam por algum tempo sei que um dia acordarão. Os retratos da vida me esperam. O cotidiano... Além das memórias que são muitas e das escritas que sempre surge falando de uma coisa qualquer; dos sentimentos mais diversos e da maneira de pensar. “Coisas filosóficas”, como disse minha irmã outro dia. Mas gosto disso. Sinto que tudo isso me completa e me faz ser mais feliz. Eu não estaria sendo eu mesma se não fosse exatamente assim. Entretanto, por ora fica apenas o desabrochar da tulipa africana.
Ainda esta semana eu vi quando a primeira flor da tulipa africana despontou de um galho bem de frente a minha janela. Tenho estado mais observadora, por isso seu desabrochar não me passou despercebido. Ontem novamente cheguei à janela e pude ver que várias delas já despontavam ingênuas com suas corolas feito cones flamejantes.
Fiquei feliz ao perceber que desta vez elas já não me são estanhas. Desde a última florada tenho observado suas transformações. Quantas vezes olhei desta janela e não as via. Até que um dia... Não sei realmente explicar... Só sei que as vi e me apaixonei por elas. Mas nem ao menos sabia o nome de tão bela flor. Pesquisei, confesso. E só então aprendi alguma coisa sobre elas.
Naquele dia era um domingo de chuva fina. Na verdade uma bela tarde de domingo de chuva. Eu olhava da janela embevecida com tão bela paisagem. Gosto da chuva, embora traga um pouco de melancolia. Na verdade tem dias que penso eu mesma ser um pouco melancólica. Daí essa paixão incontida por todas as coisas que convidam à reclusão, meditação...
Mas naquele mesmo dia não me contive e transformei em crônica o belo pé de tulipa africana. Não nego que o momento era propício: domingo, chuva, fim de tarde... E um olhar que se perdia além de seus limites. Desde então aquelas flores se tornaram alvo de minha visão em todas as tardes que eu me debruçava nessa janela. Depois assisti a todas as flores caírem sob a grama do jardim. Assisti quando todas as folhas também caíram deixando desnudos os galhos já envelhecidos. Foi-se o inverno. Veio a primavera e com ela as primeiras chuvas. Nasceram novas folhas. E de repente a primeira flor.
Eu fui a primeira a vê-la certamente e a única a observar todas as suas transformações. Agora registrei bem seu desabrochar. Dezembro. Sim a primeira flor nasceu em dezembro, já no final da primavera. Uma semana se passou desde então e já posso ver várias delas desabrochando ingênuas entre as folhas verdes. Mais uma vez com certeza se sustentarão até o início do inverno. Ou outono. Não me lembro bem da outra vez e quando a última flor se desprendeu. Agora vou observar melhor. Mas é certo que as verei novamente se desprenderem uma a uma quais as almas que se desprendem do corpo sem momento certo. Na verdade também disse isso naquele dia. Alguma vez já disse que sou repetitiva demais? Pois eu sou. Não nego. Talvez seja falta de criatividade, não sei ao certo. Não seria esse o motivo que me fez falar novamente da tulipa africana?
Muitas coisas mudaram desde a última vez que falei destas flores. Na verdade havia prometido que falaria delas antes que caíssem todas na grama do jardim. Mas não falei. Envolvi-me com tantas coisas. Coisas do cotidiano e imprevistos que atravessaram meus caminhos. Até que quando dezembro chegou eu vi a primeira flor desabrochar em um desses olhares que sempre lanço pela minha janela em um fim de tarde qualquer. Alguma vez também já disse que gosto de olhar dessa janela ao final da tarde? Sim, olho sempre daqui... A paisagem é linda apesar de ser apenas um amontoado de casas e ruas. Mas o olhar não tem direções e posso olhar o céu infinito e garanto que posso ver coisas que outros jamais perceberam. A lua. As estrelas pontilhando o manto negro da noite. E como não podia deixar de ver: o belo pé de tulipa africana.
Ainda agora me lembrei: daqui da janela inspirei-me na beleza austera da avenida que desce, senti toda a paz e quem sabe também o cansaço de um dia após as dezessete horas. Não preciso nem dizer que também fiz uma crônica desses momentos, além de registrar o mistério do luar e me lembrar saudosa dos dias chuvosos de tantos anos atrás. E ainda bastou um só olhar para me envolver na beleza das flores que vejo daqui. Por esse tempo já estava envolvida em memórias e saudades além das coisas que me rodeavam e às quais eu olhava com ares de poeta. Se não fosse assim as palavras jamais nasceriam, embora hoje algum pedaço de mim tenha adormecido, não vou negar. As palavras andam ociosas. Logo eu que havia prometido falar dos retratos da vida e quem sabe o silêncio do cotidiano, me vejo de repente falando novamente da tulipa africana.
Que explicação daria a mim mesmo diante desse fato? Contudo, sei que não passou a oportunidade. Quem conhece de certos sabores jamais se esquece. Eu conheci o sabor das palavras e mesmo que elas adormeçam por algum tempo sei que um dia acordarão. Os retratos da vida me esperam. O cotidiano... Além das memórias que são muitas e das escritas que sempre surge falando de uma coisa qualquer; dos sentimentos mais diversos e da maneira de pensar. “Coisas filosóficas”, como disse minha irmã outro dia. Mas gosto disso. Sinto que tudo isso me completa e me faz ser mais feliz. Eu não estaria sendo eu mesma se não fosse exatamente assim. Entretanto, por ora fica apenas o desabrochar da tulipa africana.