INSURREIÇÃO POPULAR



 



A violência que explodiu no Reino Unido, com destaque para os acontecimentos em Londres, deixou o mundo estarrecido. Primeiro, pelo fato da capital londrina ser considerada um exemplo de austeridade e com uma população relativamente pacata – exceção feita aos hooligans. E também pela dificuldade para entender os reais motivos de tanta violência e destruição em massa, onde prédios inteiros foram consumidos pelo fogo criminoso. Foram computados cinco mortos e mais de 1700 pessoas presas. O motivo alegado para essa barbárie foi o assassinato de um jovem negro pela polícia de Londres, que está sendo considerada como altamente despreparada.
 
É sabido que a Europa de hoje, nem de longe lembra aquela Europa romântica de outrora, com suas ladies e gentlemans aportados na boa educação, no requinte e no bom gosto. O Velho Mundo encontra-se à beira da falência, com países como Portugal, Espanha, Itália e a própria Inglaterra, beirando a bancarrota. E o mais cruel, e que talvez tenha contribuído muito para esse levante: a segregação racial e as altíssimas taxas de desemprego. A população mundial cresce a níveis alarmantes e, evidentemente, não há e nem haverá postos de trabalho para todos.
 
Assistindo a um telejornal, a apresentadora fez a chamada para uma matéria que mostrou a entrevista feita por uma repórter da BBC com um morador da cidade de Londres. Na entrevista, a repórter fustigou o quanto pode o senhor entrevistado que, por sinal, é negro, aparentando ter mais de setenta anos de idade. Ele estava indignado com tudo aquilo, mas afirmou à repórter (para espanto desta) que não tinha como condenar os fatos acontecidos. Salientou, por várias vezes, a perseguição da polícia aos negros, citando um exemplo: “Meu neto é uma criança adorável, mas quando crescer vai sofrer esse mesmo tipo de perseguição. O que eu digo a ele?”.
 
E a matéria foi seguindo com a repórter já demonstrando certa irritação por não conseguir dominar o entrevistado. Mas a emissora estatal não cortou a entrevista, mantendo-a na íntegra. Detalhe: a repórter estava no estúdio da emissora e o entrevistado, na rua.
 
O que achei mais interessante e muito bem colocado por aquele senhor, foi quando disse: “Moro aqui há mais de 50 anos. Isso que aconteceu eu não vejo como violência desmedida e nem como um protesto sem sentido. Alguma coisa errada está acontecendo no Reino Unido e isso não é de hoje (disse isto várias vezes). O que houve foi uma insurreição popular”. Ou seja, o povo simplesmente cansou de assistir a tantos desmandos e virou a mesa. Houve exagero? Sim, houve, mas quem somos nós para fazer julgamentos? 
 
Transferindo a ideia aqui para as terras tupiniquins, faço a seguinte pergunta: em vista de tantos escândalos, roubos e furtos de dinheiro público, desvio de verbas federais, manipulação de licitações, uso indevido de dinheiro enviado para tragédias, uma justiça que solta de imediato todos os que foram presos pela Polícia Federal, quando vai acontecer por aqui uma insurreição popular? Nem o futebol escapa desses abutres malditos que vivem rondando e esperando a melhor oportunidade para saquear as contas deste país.
 
Não sou partidário da violência para que se resolvam os problemas. Condeno e abomino esse tipo de atitude. Mas não é possível continuar como estamos. Aquela bolinha vermelha de palhaço já é muito pouco para colocar no nariz do povo brasileiro. Estamos muito além disso, infelizmente.
 
 
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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 14/08/2011
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