Memórias de um passado distante
 
Pra você ver quanta porcaria já fiz nesta vida.

Combustível de foguete não.  Fiz muita bomba, misturando pólvora de cabeça-de-negro com a preta comum. 

Eu e um amigo já falecido, o Humberto.  Como envoltório para a bomba, usávamos bambu gigante.  Ideal!  Pavio de dinamite, que furtamos numa pedreira.  Quinze centímetros de pavio são ideais, dá para uma corrida de um quarteirão.  Fuga tranquila.

Quando explode é um estrago só, fora o barulhão.  Derrubamos o muro do Bispado com a nossa Neca VI, poderosa.  Claro que minutos depois chegava a polícia, e nós cinicamente olhando o estrago.

Ninguém sabia que éramos nós os autores da sacanagem, e nossa intenção não era derrubar o muro, só fazer um buraco.  Mas colocamos a Neca VI muito baixa, rente ao chão, e ela possuía tamanho maior do que as anteriores, levou mais pólvora, com o espaço de ar suficiente para uma boa explosão.

Não foi mole.  Corremos para o Campo de São Bento.  Fez um clarão da moléstia quando a traquitana explodiu.

Rimos às gargalhadas, mas quando olhamos o muro caído, espantou.  Não era nosso desejo, e juntou muita gente, que não se aproximou muito do lugar onde foi cometido "o atentado contra a Igreja Católica", como os jornais noticiaram no dia seguinte.

Jornalista inventa demais.  Atentado coisa nenhuma, era puro vandalismo de adolescentes.

Outra história de um passado distante.
 

Resposta a um e-mail de amigo.
 
 
 
                                
 
Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 13/08/2011
Código do texto: T3158329
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