O HOMEM DO TERNO BRANCO E RELÓGIO DE OURO
Ele foi muito importante pra mim. Era amigo do meu pai. Eu ficava atenta quando ele aparecia na nossa porta e ficava esperando meu pai descer as escadas do nosso sobrado. Enquanto esperava, entreabria o paletó do terno de linho branco e tirava seu relógio de ouro da algibeira, clicava e a tampa dourada pulava, e via as horas. Ele ficava algum tempo pensando em algo, como quem estivesse curtindo umas idéias muito boas, depois fazia um gesto maneiro, assim elegante e especial, feito mãos de prestidigitador, e o relógio fechava e voltava pro bolso interno do paletó, e uma corrente de ouro ficava pendurada pra fora, preso ao cós das calças. Não ficava impaciente, era sereno e pronto para uma caminhada e bom papo com o amigo.
Meu pai aparecia alegre e saiam os dois amigos sorridentes e caminhando pela calçada, abraçados pelas mãos aos ombros, ou de braço dado, no maior papo os dois.
Eu ficava lá de cima na janela vendo-os se afastar. A alegria daqueles dois homens se entendendo era contagiante de ver. Meu pai usava terno de panamá branco, aberto na frente, esguio e corpo jovem e cabelos pretos em ondas, desalinhados ao vento. Já o amigo era mais amplo, com um abdômen proeminente, cara redonda em grande sorriso, mas o terno completamente bem assentado ao corpo, todo abotoado, terno bem passado, e suas passadas eram largas e pausadas. Os dois pareciam ter identidade na alegria, já meu pai tinha o terno meio amassado, próprio do tecido, paletó aberto e colarinho meio aberto bem informal.
Aqueles dois pelas calçadas eram donos do mundo. A cidade estava ali para servi-los e eles viverem.
Eu da minha janela sentia felicidade vendo-os indo ao longe. Na minha imaginação ele era uma coisa mágica, importante. Era tal o encantamento que meus neurônios assimilavam arte, criatividade, sabor como prazer de viver por ver este homem, aquela cena de um bom encontro perfeito, aquela magia, o mistério, era a bondade, era o sonho, talvez eu me encantasse era de imaginar o que ele pensava, o que ia à cabeça dele ou no coração, e por aí eu viajava... Principalmente eu sentia felicidade, criação sentimental na alma. Ele era o meu Ali Babá ou o meu Anjo Branco.
Os meus tenros anos de idade eram enriquecidos com aquele relógio de corrente de ouro daquele homem de terno branco. Era um sonho dentro do bolso dele, como uma caixinha de surpresa que guardava dentro tudo que se quisesse sonhar.
REPUBLICADO E LEMBRANDO MEU PAI COM O AMIGO E COM OS CABELOS AO VENTO
Abraçando todos os PAIS
Ele foi muito importante pra mim. Era amigo do meu pai. Eu ficava atenta quando ele aparecia na nossa porta e ficava esperando meu pai descer as escadas do nosso sobrado. Enquanto esperava, entreabria o paletó do terno de linho branco e tirava seu relógio de ouro da algibeira, clicava e a tampa dourada pulava, e via as horas. Ele ficava algum tempo pensando em algo, como quem estivesse curtindo umas idéias muito boas, depois fazia um gesto maneiro, assim elegante e especial, feito mãos de prestidigitador, e o relógio fechava e voltava pro bolso interno do paletó, e uma corrente de ouro ficava pendurada pra fora, preso ao cós das calças. Não ficava impaciente, era sereno e pronto para uma caminhada e bom papo com o amigo.
Meu pai aparecia alegre e saiam os dois amigos sorridentes e caminhando pela calçada, abraçados pelas mãos aos ombros, ou de braço dado, no maior papo os dois.
Eu ficava lá de cima na janela vendo-os se afastar. A alegria daqueles dois homens se entendendo era contagiante de ver. Meu pai usava terno de panamá branco, aberto na frente, esguio e corpo jovem e cabelos pretos em ondas, desalinhados ao vento. Já o amigo era mais amplo, com um abdômen proeminente, cara redonda em grande sorriso, mas o terno completamente bem assentado ao corpo, todo abotoado, terno bem passado, e suas passadas eram largas e pausadas. Os dois pareciam ter identidade na alegria, já meu pai tinha o terno meio amassado, próprio do tecido, paletó aberto e colarinho meio aberto bem informal.
Aqueles dois pelas calçadas eram donos do mundo. A cidade estava ali para servi-los e eles viverem.
Eu da minha janela sentia felicidade vendo-os indo ao longe. Na minha imaginação ele era uma coisa mágica, importante. Era tal o encantamento que meus neurônios assimilavam arte, criatividade, sabor como prazer de viver por ver este homem, aquela cena de um bom encontro perfeito, aquela magia, o mistério, era a bondade, era o sonho, talvez eu me encantasse era de imaginar o que ele pensava, o que ia à cabeça dele ou no coração, e por aí eu viajava... Principalmente eu sentia felicidade, criação sentimental na alma. Ele era o meu Ali Babá ou o meu Anjo Branco.
Os meus tenros anos de idade eram enriquecidos com aquele relógio de corrente de ouro daquele homem de terno branco. Era um sonho dentro do bolso dele, como uma caixinha de surpresa que guardava dentro tudo que se quisesse sonhar.
REPUBLICADO E LEMBRANDO MEU PAI COM O AMIGO E COM OS CABELOS AO VENTO
Abraçando todos os PAIS