BENÇÃO, PAI !

BENÇÃO, PAI !

Quanta diferença se eu comparar o meu pai de antes com o de agora. Hoje, aos 83 anos, meu pai cresceu, rejuvenesceu, se modernizou (um pouco), se aproximou de nós, filhos.

Lembro, tão pequena ainda, ouvir o pedido de silêncio “xiuuuuuuuuuu” de minha mãe. Barulho na maçaneta. Era ele chegando. Ninguém falava mais nada, as brincadeiras acabavam, os sorrisos fechavam, ninguém se mexia. Era ele chegando e impondo respeito. Sempre de cara feia, brava... Não que fosse feio, nem que estivesse bravo. Era a forma que ele achava certa de nos criar, de mostrar seu poder. E quem éramos nós para discordar?

Biquíni? Nem pensar. Saia curta? Jamais. Maquiagem? Fora de cogitação. Sair à noite e voltar tarde? Mas nem com irmão colado no pé. Claro que eu e minha irmã mais velha fazíamos tudo isso escondido e com um certo apoio apavorado de mãe. Mas eram inúmeras as regras a seguir e tomávamos todos os cuidados.

Mentir para pai e mãe isso é coisa que sempre existiu (embora não devesse). A diferença está nas regras. Hoje elas existem meio de “faz de conta”. O pai finge que impõe limites (quando impõe) e o filho finge que acredita. E nada é seguido e fica tudo por isso mesmo. Porque não há tempo, entende? Há o trabalho, reuniões, e-mails para responder... e mais trabalho, contas a pagar, vontade de sumir, etc etc etc

Não que isso tudo não existisse antes (exceto os e-mails :-)), mas era diferente. Havia respeito mesmo por trás da “mentirinha” de sair escondido. Havia respeito pela figura do pai. Era medo? Sim, também. Mas era o aprendizado de que existem limites. Eu sabia perfeitamente até onde poderia ir, mesmo com toda a irresponsabilidade que a juventude nos traz, a vontade de fazer tudo, de ser dona do mundo, romper barreiras, revoltas... Eu também passei por tudo isso, oras. Também já fui adolescente.

Mas hoje, quando vejo o noticiário na TV, com jovens fazendo o que fazem, reflexo puro da educação que recebem dos pais, principalmente da figura paterna, fico chocada. Porque sei que não é ficção. É a mais pura verdade. A falta do respeito está em milhares de lares, acontece na minha esquina, está tão perto de nós gerando essa violência desenfreada. Quem são esses pais de hoje?

E aí eu olho para o meu pai “modificado”. Os filhos cresceram e hoje todos têm mais de 40 anos. Não dá mais para brigar pelo uso de biquíni, por chegar tarde, por usar maquiagem. Creio que tirar esse “peso” da criação, já que são todos mulheres e homens feitos, lhe deu um alívio. Ficou mais carinhoso, brincalhão, com suas implicâncias da idade, claro. Afinal, são 83 anos.

Hoje, quando lembro do meu pai que chegava em casa cansado, andava o dia inteiro vendendo cigarros e miudezas em geral... Quando lembro desse pai trabalhador que criou com imensa dificuldade seus cinco filhos... Quando lembro do “xiuuuuuuuuuuuuuuuu” da minha mãe porque ele estava chegando em casa... Que orgulho eu sinto!!

Só posso dizer que todas as broncas valeram, todas as imposições de limites, todas as caras feias... Até a falta de carinho que me fez sofrer e chorar tanto (eu não entendia na época que ele não conseguia se expressar de outra forma, devido à sua criação difícil na roça da Bahia)... Até isso eu agradeço.

E ao nos aproximarmos do Dia dos Pais, meu maior desejo é que todos tivessem o pai que eu tenho. Que pelo menos um “tantinho” assim do exemplo de vida, educação e respeito que ele me deu, estivesse presente em cada lar. Para que todos pudessem sentir o que eu sinto agora: um baita orgulho do “seu” José Machado.

Benção, pai !