Um dia a gente aprende

Um dia, a gente aprende que nem todos os amigos são

verdadeiros, nem todas as pessoas falam o que pensam ou acreditam

nas teorias que seguem.

Um dia, a gente aprende que, às vezes, é mais sábio dizer o que

o outro quer ouvir, ao invés de discutir pontos de vistas já

consolidados.

Um dia, a gente aprende que todas as pessoas que batem no

peito dizendo o quanto são religiosas, são as menos solidárias e as

mais insensíveis com relação as dores do próximo.

Um dia, a gente aprende que quando uma pessoa fala muito

sobre o que acredita e o quanto é justa, está tentando, com certeza, se

convencer disso.

Um dia, a gente aprende que as piores falsidades chegam

disfarçadas de elogios exagerados e abraços compulsivos.

Flashes da vida 41

Um dia, a gente aprende que nem todos os discursos

convincentes revelam as verdadeiras intenções, e que nem todas as

intenções são, necessariamente, reveladas por palavras.

Um dia, a gente aprende a esperar menos dos outros, e

consequentemente, poupar nosso coração de decepções.

Um dia, a gente aprende a baixar a expectativa e a deixar

acontecer.

Um dia, a gente aprende que ninguém resolverá nossos próprios

conflitos, que ninguém colocará a “mão no fogo” por causas alheias

- por mais justas e verdadeiras que sejam.

Um dia, a gente aprende que nem todo ser humano é do bem,

que nem sempre o mau leva a pior, e, raramente, as máscaras caem

antes do final da história.

Um dia, a gente aprende a falar menos, a errar menos, a julgar

menos e a viver melhor, mesmo em meio ao caos.

Um dia, a gente aprende que a convivência com o outro não

precisa ser forçadamente amigável, apenas ensaiadamente cordial.

Um dia, a gente aprende que, para respeitar alguém, não é

preciso admirar suas atitudes, concordar com suas idéias ou

compactuar com seus valores.

Um dia, a gente aprende que quanto menos nos expomos,

menos críticas recebemos, e mais seguros nos tornamos.

Um dia, a gente aprende que, independentemente das críticas

recebidas, nossos ideais jamais devem ser reformulados em

detrimento de opiniões alheias.

Um dia, a gente aprende que ninguém no mundo tem o direito

de invadir nossos sonhos e de dizer que o mundo não gira em torno

deles.

Um dia, a gente aprende que sonhos são individuais, são

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íntimos, não estão em julgamento, não recebem sentenças e não estão

à venda.

Um dia, a gente aprende a ser mais amante que esposa, a elogiar

pequenas atitudes ao invés de esperar grandes momentos, a conviver

ao lado ao invés de correr na frente.

Um dia, a gente aprende a curtir o momento, ao invés de

antecipar o tempo ou prolongar as horas.

Um dia, a gente aprende a decifrar olhares, a realizar leituras

labiais, a interpretar as intenções das palavras, a ler pensamentos

secretos, a entender os silêncios ecléticos.

Um dia, a gente aprende a ler a vida com autonomia.

Um dia, a gente aprende a ser mais mãe e menos amiga, mais

sincera e menos simpática.

Um dia, a gente aprende. Um dia, a gente acorda. Um dia, a

gente enxerga. E quando esse dia chega, a aprendizagem se

estabelece. Quando esse dia chega, começamos a caminhar em busca,

ao invés de correr atrás.