DO ALTO DA SERRA
... agora a casa está vazia!
Depois da algazarra do fim-de-semana, do alarido da criançada, do som do sax do meu filho, do tilintar das panelas na cozinha, do zumbido do aparador de grama, do som harmonioso do teclado, do áudio da TV e do "receiver" na sala, o silêncio de agora dá a impressão de peso ou de princípio de otite.
Ficamos só eu, a Lee - minha mulher - e o Demóstenes Marreco, "poodle", afilhado dela, que um dia se chamou Tufo, mas por ter perdido o concurso do Faustão, foi rebatizado com o citado nome, ao qual, para manter sua identidade, aceitamos acrescentar Cachorro.
Por força do hábito vou para o escritório, pego, aleatoriamente, um livro na minha incipiente biblioteca e procuro assento na poltrona preferida, com tecido xadrez escocês (a rima foi por acaso).
Lá fora, o céu está de um espalhafatoso azul de montanha, constrastado ainda mais pelo puríssimo branco de enormes nuvens que vão sendo levadas por um vento camarada.
Abro o livro. É de José de Alencar e contém duas obras; Lucíola e Diva.
Folheio-o e caio na página 25, capítulo II de Lucíola, onde o autor descreve a festa de N.S. da Glória do Outeiro, isto nos idos de 1855! Relei-o com renovada ansiedade.
Retiro dele alguns fragmentos que achei interessante passar aos prováveis leitores desta crônica, pois acredito que poucos tenham tido a oportunidade de participar desse evento religioso.
Diz o nosso José; "a grande romaria desfilando pela rua da Lapa e ao longo do cais serpejava nas faldas do outeiro; era Ave-Maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper o mole de gente que murava cada uma das portas do outeiro, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena muralha..."
Então, me dei conta de que eu participei dessa festa. Quantas vezes subi a velha e tortuosa Ladeira da Glória, espremido e espremendo, levado pela multidão que, literalmente, ocupava toda sua largura e comprimento. Confesso que a rapaziada ia mais motivada pela "azaração" (o nome era outro, mas não lembro mais). Deus nos perdoe!
Na muralha onde José de Alencar sentou, eu sentei também; nessas ocasiões e em muitas outras em dias sem movimento, só para apreciar a linda vista que se tem de lá.
Como um grande calidoscópio, passaram em minha mente tantas coisas que vivenciei que acho melhor ficar por aqui, com a indisfarçada certeza de que, realmente, estou ficando velho!
... agora a casa está vazia!
Depois da algazarra do fim-de-semana, do alarido da criançada, do som do sax do meu filho, do tilintar das panelas na cozinha, do zumbido do aparador de grama, do som harmonioso do teclado, do áudio da TV e do "receiver" na sala, o silêncio de agora dá a impressão de peso ou de princípio de otite.
Ficamos só eu, a Lee - minha mulher - e o Demóstenes Marreco, "poodle", afilhado dela, que um dia se chamou Tufo, mas por ter perdido o concurso do Faustão, foi rebatizado com o citado nome, ao qual, para manter sua identidade, aceitamos acrescentar Cachorro.
Por força do hábito vou para o escritório, pego, aleatoriamente, um livro na minha incipiente biblioteca e procuro assento na poltrona preferida, com tecido xadrez escocês (a rima foi por acaso).
Lá fora, o céu está de um espalhafatoso azul de montanha, constrastado ainda mais pelo puríssimo branco de enormes nuvens que vão sendo levadas por um vento camarada.
Abro o livro. É de José de Alencar e contém duas obras; Lucíola e Diva.
Folheio-o e caio na página 25, capítulo II de Lucíola, onde o autor descreve a festa de N.S. da Glória do Outeiro, isto nos idos de 1855! Relei-o com renovada ansiedade.
Retiro dele alguns fragmentos que achei interessante passar aos prováveis leitores desta crônica, pois acredito que poucos tenham tido a oportunidade de participar desse evento religioso.
Diz o nosso José; "a grande romaria desfilando pela rua da Lapa e ao longo do cais serpejava nas faldas do outeiro; era Ave-Maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper o mole de gente que murava cada uma das portas do outeiro, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena muralha..."
Então, me dei conta de que eu participei dessa festa. Quantas vezes subi a velha e tortuosa Ladeira da Glória, espremido e espremendo, levado pela multidão que, literalmente, ocupava toda sua largura e comprimento. Confesso que a rapaziada ia mais motivada pela "azaração" (o nome era outro, mas não lembro mais). Deus nos perdoe!
Na muralha onde José de Alencar sentou, eu sentei também; nessas ocasiões e em muitas outras em dias sem movimento, só para apreciar a linda vista que se tem de lá.
Como um grande calidoscópio, passaram em minha mente tantas coisas que vivenciei que acho melhor ficar por aqui, com a indisfarçada certeza de que, realmente, estou ficando velho!